Sentimento de Leitor #9 - Onde você lê?

Olá! Tudo bem com vocês? Hoje o assunto dos nossos sentimentos é o lugar onde fazemos nossas leituras.

     Meu local favorito para ler é perdida em meio a cobertores quentes, no frio. No conforto dos lençóis, tendo só a chuva como interlocutora. Eu e ela. E uma história. De preferência com uma bebida quente e um chocolate. Tato, paladar, olfato, visão e o melhor: o coração e a mente atuando. Relaxando. Tudo trabalhando numa fusão que encanta a alma. E me transforma a cada linha. Mas há muitas outras opções de locais para ler, e há leitor que diga que não há meio bom o suficiente, especialmente na posição. Sentado, deitado de costas, de lado... nada é confortável o bastante. Mas isso não me incomoda. Abro o livro sem reclamar e embarco numa viagem em ótima companhia. A posição não me parece algo tão complicado. Mas o lugar... 

     Há lugares melhores que outros em dados momentos. Depende de nós, do clima que vivemos. Se somos ventania, tempestade ou calmaria. O ambiente de leitura nos acompanha, conforta, acolhe e renova. E quando mal escolhido, piora tudo. Há quem adore uma beira de piscina ou a praia para ler nesse verão. Tentei a praia. E o melhor de tudo é ouvir o som do mar, sentir o vento e a maresia. Mas acho que funciona melhor quando você está sozinha e a praia mais vazia. Praia cheia com pessoas falando à sua volta ou um clima muito quente podem incomodar. Porque são coisas que podem incomodar até mesmo se você não estiver lendo. Outro causador de inquietação é ler na beira da piscina quando tudo que você quer é estar dentro d'água. A não ser que o livro seja muito bom. Aí é uma agonia gostosa. Mas de qualquer maneira, esses devem ser os melhores lugares de leitura no verão. A não ser que você tenha um ar condicionado - opa, isso soou muito consumista? -, porque no Rio a sensação térmica tem chegado a um estado em que é muito difícil ficar confortável só com ventilador. Mas... um sorvete... uma bebida gelada... ajudam. Então, podemos dispensar o ar. E até arriscar dizer que o melhor ambiente para ler em qualquer estação é aquele que te dê paz.

      Mas há situações que não dependem do clima. Dependem do ambiente. Pessoas viciadas como eu, e como eu acredito que a maioria de vocês seja, leem em qualquer lugar. Essa é a verdade. Aí lugar para ler vira só uma questão de lugares em que mais gosto e lugares em que menos gosto. Durante a rotina normal, o fato é que sempre há um livro na bolsa. Muitas vezes, ao sair de casa, eu não tinha que levar bolsa ou levar algo pequeno para o básico (documentos, chaves, celular...). Mas quantas vezes não reforçamos o que temos em mãos para comportar um livro? Uma ideia particular é usar ecobags. Tenho uma pequena da Turnê Intrínseca, e não uso capa de livro, levo-o dentro dela. Dentro de onde estiver, acho mais seguro colocá-lo na ecobag, com posts-its e canetas. É praticamente um "kit-leitura". Quando tenho que ir a um lugar simples, onde quase nada é preciso - por exemplo, até o salão de beleza - levo só a ecobag, que é pequena, com o que tiver que levar a mais. Vocês sabem... aquela leitura de espera. Básica.

      E aí chegamos a um assunto importante: leituras em salas de espera. Pessoas viciadas em leitura têm esse problema, qualquer momento parado tranquilamente sem ter o que fazer precisa ser preenchido por leitura. Não é qualquer inquietação. Não é fofocar. Não é conversar com a pessoa ao lado. Muito menos pegar as revistas da mesa mais próxima. É retirar o livro da bolsa e começar a ler. Em filas de banco, em consultórios, hospitais, exames, salões de beleza, em encontros esperando a pessoa chegar... Um leitor sempre tem um livro esperando para ser lido em sua bolsa. Ou mais de um. O importante é ler. É acelerar o processo. Se divertir. Ter cores enquanto o restante das pessoas está no mau humor cinza. A leitura, na maior parte das vezes, dá um outro olhar. Um ânimo que só os leitores conhecem: satisfação. Com um misto de frustração quando você está na melhor parte e a espera acaba.

     E o que falar, então, dos transportes públicos? O mais conhecido momento. Em que aquele que lê e consegue lugar na hora mais lotada do dia se sente como se tivesse ganho na loteria. E aquele que continua em pé, ou até mesmo num banco mais distante sem um livro, precisa descobrir o que o outro está lendo. Um momento em que viramos espiões. Concentrados em descobrir a leitura alheia, na maioria das vezes sem ser descobertos. E o esforço vale a pena quando conhecemos o livro. E muito mais quando já o lemos. 

    Mas tudo isso é tão relativo... porque é uma atividade que alguém gosta de fazer. São lugares onde as pessoas gostam ou não de estar. É alguém que gosta de resmungar contra o mundo e alguém que ama a vida e as pessoas. Infinitas personalidades. Contar é um ato desprezível. A maior felicidade, independentemente do lugar, é amar o ato. Amar a leitura. E se satisfazer por descobrir em meio às páginas novos universos, novas poesias, novos amores. É se descobrir. Se perder e se encontrar. É ler. Estar feliz. Sem se importar com o lugar. Em outras palavras... se contentar é amar. E amar, para muitos de nós, é ler.