Resenha: O Livro do Amanhã

Olá! Início de ano... primeira resenha de 2015! Para que possamos refletir sobre os acontecimentos futuros. Sobre o Amanhã.

Autora: Cecelia Ahern

Editora: Novo Conceito

Páginas: 367

Assunto/ Categoria: Literatura Irlandesa, Ficção, Fantasia, Escolhas, Juventude e Aprendizado, Relações familiares

Sinopse: Nascida no luxo, Tamara Goodwin, de 16 anos, nunca precisou olhar para o amanhã, até que a morte abrupta de seu pai deixa a ela e a sua mãe uma montanha de dívidas e as obriga a se mudarem para a casa dos tios de Tamara, em um vilarejo no interior. Solitária e entediada, a única diversão de Tamara é uma biblioteca itinerante. E ali, ela encontra um livro muito misterioso. Tamara vê inscrições com sua própria letra e datadas para o dia seguinte. Quando tudo acontece exatamente como o livro previa, ela percebe que pode ter encontrado a solução para seus problemas. No entanto, Tamara descobre que é melhor não virar algumas páginas e que, apesar de muito tentar, não pode mudar o destino.

Imaginar o futuro é refletir sobre suas escolhas

        Até hoje só li dois livro da Cecelia Ahern, e a impressão que tive das duas leituras foi de que a história se passa como um filme agradável que passa na TV de tarde. É fácil imaginar as cenas dessa forma. Como aquele conforto de estar diante da TV sem preocupações pelo menos numa parte da rotina corrida. Só que o livro é muito mais que isso. Ele tem um diferencial que a televisão popular não tem: te faz refletir. Te dá palavras que são verdadeiras sacadas em meio aos acontecimentos. Porque a autora sabe o que está fazendo e tem uma mensagem a passar. Uma mensagem passada através de uma história, com drama, calmaria, emoção, diversão. De modo sutil, sem insistir para que você veja o mundo como a mensagem que lhe é transmitida. É mais como... "já olhou as coisas por esse ângulo?". E esse é um diferencial que fez com que a autora me ganhasse, com certeza. Em O Livro do Amanhã a situação é exatamente essa. A história não é daquelas divertidas, nem extremamente dramáticas. Eu diria que é mais como a vida é, só que com uma pitada de magia.

     Tamara Goodwin é uma adolescente do estereótipo pintado tantas vezes de jovens vazios que só se preocupam com si mesmos, suas paixões e com o hoje. As imperfeições da personagem são pintadas para nós, e a própria contando sua história do futuro, se critica. Critica a vida que levava e outras coisas e pessoas. E isso já revela para o leitor que a personagem vai amadurecer. O pai de Tamara morre e ela precisa se mudar com a sua mãe, que parece viver em outro mundo, para a casa de seus tios numa cidade pequena, sem luxos e sem a modernidade com a qual Tamara estava acostumada. Claro que inicialmente ela não gosta nada disso. Assim como não tem nada para fazer. Encontra distração numa biblioteca itinerante, onde há um cara bonito. Sim, ela se atrai por ele, não pelos livros. Só que nessa biblioteca, além de se divertir um pouco, ela encontra um diário, que só consegue abrir com a ajuda de uma vizinha que logo se tornará sua amiga. Uma senhora que pratica apicultura, e que ela descobrirá mais na frente que gosta de livros picantes, apesar de ser freira - a personagem mais legal.

"...Não se deve tentar impedir tudo de acontecer. Às vezes, devemos esperar ficar sem jeito. Às vezes, também, devemos aceitar a possibilidade de ficar vulnerável diante das pessoas. Às vezes isso é necessário porque tudo faz parte de você chegar  à parte seguinte de si mesma, no dia seguinte."

       A questão do livro é que inesperadamente, o dia seguinte já está escrito, pela própria letra de Tamara. Maior ainda é a surpresa de Tamara quando o dia seguinte segue exatamente como descrito no livro. E então, uma pessoa que não vivia, vagava, começa a refletir sobre o dia seguinte. Sobre suas ações, e o melhor: suas consequências. Porque o livro tem seu ponto de vista, seu julgamento e arrependimento sobre algumas das bobagens que faz. E isso faz com que Tamara passe a refletir antes de agir. E mais: refletir sobre a vida. A história é um tanto devagar às vezes. Mas acredito que a intenção não seja proporcionar um texto corrido, para ser devorado, mas sim um em que o leitor reflita e cresça com a personagem. Com a vida. A vida em si não é sempre tão emocionante quanto os livros que lemos, mas é o que mais nos ensina. Cecelia Ahern transmite tudo isso extremamente bem. Nos fazendo refletir sobre as crenças, sobre mentes abertas e fechadas, sobre seres humanos educados partindo do conhecimento de que podem ter tudo a hora que quiserem e as consequências disso, sobre o ter e o não ter bens materiais, sobre pessoas boas e pessoas que não são más... e muito mais. Ao estilo Cecelia, que me rendeu muitos quotes.

4 Estrelas

Quotes

"...com as mentes assim abertas, passam pelas circunstâncias da vida decididas e tolerantes, veem luz na escuridão, possibilidades em becos sem saída, experimentam vitória quando outras expressam fracasso, questionam quando outras aceitam. Apenas menos embotadas, menos cínicas. Com menos probabilidade de entregarem os fatos. (...)  Por outro lado, existem aquelas cujas mentes não passam de um buquê de talos, dos quais brotam botões quando elas apreendem uma nova informação - um novo botão para cada novo fato -, mas nunca se abrem, jamais florescem. Trata-se das pessoas de letras maiúsculas e pontos finais, mas nunca de pontos de interrogação e elipses."

"Não éramos pessoas más, apenas não éramos boas. Nada oferecíamos a qualquer pessoa no mundo, mas recebíamos um tremendo quinhão."

"O fato de que eu fora pisoteada tornou-se óbvio. O que me deixou repetidas vezes em dúvida era em qual direção eu ia crescer agora."