Antes de ler este post, como você responderia a pergunta? Pense sobre isso. Depois, leia-o e repense.
Falar sobre este assunto abrange uma série de questões relativas. Como o tipo de livro e o público alvo. Em primeiro lugar, em que mulher você pensa? As protagonistas dos livros eróticos recentes são, geralmente, de classe média, brancas, com a vida cheia de oportunidades e sem problemas imediatos além de dramas pessoais. É este tipo de mulher que a maioria dos livros retrata (se conhecer outro tipo mais próximo da realidade da maioria da população, pode comentar, pois vou adorar saber!). E se formos parar para olhar para nós mesmas, leitoras, mais engajadas, é comum ver entre nós a identificação com este esterótipo de mulheres com as vidas mais acertadas, sem problemas imediatos além de dramas pessoais. Geralmente instruídas ou que pelo menos tiveram a oportunidade de se instruir bem, nem que uma vez na vida. Por isso, ao tocar na questão "libertou a mulher", de que mulher estamos falando? Da dona de casa? Da universitária? Da mais jovem, inexperiente? É permitido para elas agora falarem sobre sexualidade e consumirem o material erótico sem problemas? E até onde vai essa tal liberdade?
Já citei a questão em algumas resenhas, há um estereótipo na literatura para os tipos de protagonista. Como se no geral todos os autores se esquecessem de retratar outros tipos de personagens. A mudança vem engatinhando aos poucos, com publicações estrangeiras de outros tipos: Eleonor e Park, Extraordinário, Amy e Matthew, todos os livros do David Levithan, A Garota da Casa Grande... Mas ainda assim, dentro de tudo isso, quanta diversidade há? Dentro de todo o mercado editorial, são poucos os livros best-sellers que podem ser citados como exemplo de mudança, de público além dessa classe social e tipo físico. Falta, ainda mais, livros que façam o brasileiro se identificar com a realidade do seu dia-a-dia. O negro e pobre não se vê, vê outra realidade totalmente diferente, e dentre os personagens, raramente um o salva de não ver nenhuma característica que o identifique. A identificação só acontece com os sentimentos humanos, que são os produtos dessa indústria. Como incentivar a leitura para essas pessoas assim? Não seria mais viável dar margem à realidade brasileira? Acredito que o que faz com os autores e autoras nacionais escrevam desse jeito seja a influência da leitura do que vem de fora. É seguir a tendência da venda de sentimentos e não da realidade. Os best-sellers vivem em outro momento, com outros ideais e objetivos. Mas a representatividade importa!
Voltando a temática da literatura erótica para a mulher, a mulher negra, precisa ser libertada? Historicamente, ela nunca precisou lutar pelo direito de trabalhar. Trabalhava desde a época da escravidão. E lá também era abusada, obrigada a fazer, sim, de tudo, contra a sua vontade. Com o tempo, será que tal pensamento se desmembrou? Ela tem a mesma posição que a mulher retratada na literatura que consumimos? Ou será que a sociedade ainda a vê como a que não se importa em fazer tudo e sambar nua no Carnaval? Ou ela ainda é retratada, muitas vezes, na TV como associada ao sexo e ao trabalho simples? O problema não é retratar a mulher negra simples que trabalha e que encara sua sexualidade, que certamente existe assim como a branca que faz o mesmo, é omitir a mulher negra diferente deste estereótipo, a que diverge e que poderia e deveria inspirar outras. Por outro lado, a recepção dessa representação sempre pode ser polêmica dependendo dos olhos de quem vê. Mas não é por isso que ela precisa ser como é: inexistente.
Estabelecido que somente um tipo de mulher é destacado nos livros eróticos e romances voltados para a mulher, a pergunta principal: essa mulher foi libertada? Ganhou espaço para sua sexualidade? Se tornou mais livre? Minha resposta é sim e não. Sim, porque agora a mulher diz que consume livros eróticos sem vergonha, e assim também se sente mais confortável para falar sobre sua sexualidade. Cinquenta Tons de Cinza foi o revolucionário nesse aspecto, mas trouxe, ainda, uma mulher submissa. Com o tempo que fomos vendo a mulher se tornar protagonista, principalmente em outras histórias. O que é incontestável em todos os livros do gênero é que: a mulher pode fazer de tudo na cama, ter sua liberdade e tudo mais, mas para alcançar o sucesso, precisa estar com o cara que ama e ser fiel até o final. A lição para a boa moça e doutrinação social para a mulher persiste na literatura, ainda que camuflada por alguns palavrões e cenas de puro êxtase sexual.
O foco é o romance com o homem dos sonhos disposto a realizar suas fantasias, o homem que é idolatrado pelo público, que é perdoado de seus defeitos e se redime durante a leitura graças ao amor. Desde que tenha amor, a mulher pode tudo. A rival que aparece nos livros não ama, não se submete aos padrões sociais e, por isso não merece perdão, merece a punição do autor e a crítica do leitor. E se tivéssemos um livro em que o romance não dá certo? Em que a mulher não consegue amar e termina sozinha, solteira, curtindo sua vida? Qual visão você teria dela? Acharia que o "mocinho" apaixonado merece toda a defesa? E que se fosse ao contrário ele poderia ser perdoado porque "é homem" e como é mocinho, uma hora ou outra seria uma pessoa melhor? Uma personagem feminina que fosse independente seria alvo de muitas críticas, assim como a mulher independente recebe na sociedade. Enquanto a sociedade não mudar, os livros e sua representação e recepção também não mudarão.
Mas isso tudo é só excesso de pensamento e realidade. Quero saber o que vocês acham.
Comente! Quero saber sua opinião! ;)
Estabelecido que somente um tipo de mulher é destacado nos livros eróticos e romances voltados para a mulher, a pergunta principal: essa mulher foi libertada? Ganhou espaço para sua sexualidade? Se tornou mais livre? Minha resposta é sim e não. Sim, porque agora a mulher diz que consume livros eróticos sem vergonha, e assim também se sente mais confortável para falar sobre sua sexualidade. Cinquenta Tons de Cinza foi o revolucionário nesse aspecto, mas trouxe, ainda, uma mulher submissa. Com o tempo que fomos vendo a mulher se tornar protagonista, principalmente em outras histórias. O que é incontestável em todos os livros do gênero é que: a mulher pode fazer de tudo na cama, ter sua liberdade e tudo mais, mas para alcançar o sucesso, precisa estar com o cara que ama e ser fiel até o final. A lição para a boa moça e doutrinação social para a mulher persiste na literatura, ainda que camuflada por alguns palavrões e cenas de puro êxtase sexual.
O foco é o romance com o homem dos sonhos disposto a realizar suas fantasias, o homem que é idolatrado pelo público, que é perdoado de seus defeitos e se redime durante a leitura graças ao amor. Desde que tenha amor, a mulher pode tudo. A rival que aparece nos livros não ama, não se submete aos padrões sociais e, por isso não merece perdão, merece a punição do autor e a crítica do leitor. E se tivéssemos um livro em que o romance não dá certo? Em que a mulher não consegue amar e termina sozinha, solteira, curtindo sua vida? Qual visão você teria dela? Acharia que o "mocinho" apaixonado merece toda a defesa? E que se fosse ao contrário ele poderia ser perdoado porque "é homem" e como é mocinho, uma hora ou outra seria uma pessoa melhor? Uma personagem feminina que fosse independente seria alvo de muitas críticas, assim como a mulher independente recebe na sociedade. Enquanto a sociedade não mudar, os livros e sua representação e recepção também não mudarão.
Mas isso tudo é só excesso de pensamento e realidade. Quero saber o que vocês acham.
Comente! Quero saber sua opinião! ;)
Nossa! É a primeira vez que vejo um post tão profundo quanto esse, que foi bem fundo em um gênero literário. Adorei seus questionamentos! Eu não leio livros como esse, pois muitos deles acabam sendo repetitivos, clichês etc. Muitos dos livros chegam até ser machistas, por o homem ser o mocinho da história que, só porque tem muito dinheiro, pode fazer o que quiser com a mulher!
ResponderExcluirUau!
ResponderExcluirGostei bastante do seu ponto de vista. Leio muitos livros assim,e realmente nos mostram sempre o mesmo tipo de personagem.
Falemos agora dos homens neste tipo de leitura.
Em geral gostam de dominar,são ciumentos e possessivos. Na vida real,fujam deste tipo: Eles são perigosos.
E sempre aconselho minha filha e sobrinhas que sejam independentes .Homens NÃO respeitam mulheres que não tenham opinião própria.
Bjs
Vivian,concordo com você o esteriótipo das personagens é sempre mantido mesmo que existam mudanças nenhuma delas alcançam determinadas características ,seja social,econômica,física e étnica ,a realidade social brasileira realmente nunca se vê.Realmente a mulher negra é inexistente nesse mercado editorial,e só encontramos na maioria das vezes o mesmo padrão que se submete ao perfil sempre igual do mocinho que não muda,me pergunto quando verdadeiramente veremos um(a) autor(a) se lançar e mudar esse padrão.Será que alcançará fácil aceitação?Espero que sim para as duas indagações.Beijos!!!!
ResponderExcluirAdorei este texto.
ResponderExcluirNunca vi até agora um livro em que as personagens desses tipos de livros fossem normais, retratadas como as donas de casa as leitoras realmente são, não curto muito livros eróticos, mas pelas resenhas que leio, são geralmente com mulheres sedutoras de classe média e essas coisas como protagonistas, nada muito próximo da realidade.
Ficou otimo esse texto.
ResponderExcluirEu leio muito poucos livros desse genero, mas é quase sempre a mesma coisa, sempre meio que repetitivo acho que os autores desse genero deveriam renovar um pouco
Olá!
ResponderExcluirConcordo com você, a maioria dos livros os personagens tem características parecidas, bonitas e ricas, são poucos os livros que os protagonistas tem algum problema mais sério.E muitas vezes a história contada não se aproximam com a realidade dos leitores.
Não gosto do gênero romance erótico, pois pelas resenhas e comentários que leio sempre há essa repetição, outro gênero que também as características são sempre as mesmas é new adult, é difícil encontrar um livro desse gênero que tenham uma história mais profunda.
Li alguns do que você citou como Extraordinário e Eleanor e Park, que fogem desse padrão, são livros ótimos e tratam de temas profundos e verdadeiros.
Olá Vivian
ResponderExcluirConcordo totalmente com você, é preciso haver mais historias em que o leitor possa se identificar, mas não só nos sentimentos.
É bom ver que aos poucos esta mudança vem acontecendo.
Não gosto do gênero erótico, não consigo ver nada que me prenda nesse tipo de historia.
Desses livro que você citou, li Extraordinário, mas Eleonor e Park está na minha meta.
Ótimo texto!
Beijos
Oie
ResponderExcluirOs livros eróticos seguem todos essa mesma linha que o mercado pede atualmente,dificilmemte há personagens inovadores e mulher que tenham uma personalidade forte e que não se submetam as vontades dos maravilhos mocinhos idolatrados.Eu gosto do gênero e espero que surja mais diversidade nas histórias.
Oi Vivi, o problema, pelo menos eu como leitora, é que sou romântica e sempre vou torcer para que os casais fiquem juntos. Já li livros onde os casais não ficam juntos, e apesar da revolta inicial, gostei muito do final. Mas não tinha este lado erótico no enredo. EU não vejo problema se a mulher ficar sozinha e feliz, mas sempre vou preferir que ela encontre alguém.
ResponderExcluirBjs, Rose.