21 julho 2014

Resenha: O Assassinato do Arquiduque






Autores: Greg King e Sue Woolmans

Editora: Cultrix (Grupo Editorial Pensamento)
Assunto/ Categoria: Biografia, Primeira Guerra Mundial, Arquiduque da Áustria - Francisco Fernando, Assassinato, História
Páginas: 360
Sinopse: No verão de 1914, três grandes impérios dominavam a Europa: Alemanha, Rússia e Áustria-Hungria. Quatro anos depois, todos haviam desaparecido no caos da Primeira Guerra Mundial. Um acontecimento precipitou o conflito e por trás dele havia uma trágica história romântica. Quando o herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Francisco Fernando, casou-se por amor contra a vontade do imperador, ele e sua esposa, Sofia, passaram a ser hostilizados e evitados. Os projéteis disparados em Sarajevo não apenas puseram fim à sua história de amor, como também levaram à guerra e desencadearam outros conflitos nas décadas seguintes. Num brilhante cenário de luxo e ostentação, O Assassinato do Arquiduque combina histórias da realeza europeia, romance comovente e crime político num palpitante retrato do fim de uma era. Cem anos depois, esta obra desvenda a surpreendente verdade por trás dos assassinatos - inclusive a cumplicidade da Sérvia - e passa em revista boatos de conspiração e negligência oficial. O incidente de Sarajevo condenou os filhos do casal a vidas marcadas por perdas, exílio e horrores nos campos de concentração nazistas, entre outras consequências terríveis provocadas pela morte dos pais. Desafiando mitos acumulados em livros e filmes sobre o tema ao longo de um século, O Assassinato do Arquiduque se apresenta como uma história de amor profundamente humana, destruída pelo crime, pela revolução e pela guerra.







Muito mais que fatos na história




Olá! Tudo certo com vocês? Comigo tudo bem, apesar do cansaço da rotina dos estudos. Dando uma fugidinha aqui para contar o que achei de O Assassinato do Arquiduque. Vamos lá?



        O livro mostra tanto a vida do arquiduque Francisco Fernando quanto o que acontece depois de sua morte. Mas, apesar do título ser estrategicamente pensado como O Assassinato do Arquiduque, eu diria que o que mais me chamou a atenção não foi só ele, mas o seu relacionamento com Sofia, e o modo tão bem trabalhado de pesquisa e escrita dos autores. Nunca tinha lido nada do gênero, que tivesse como objetivo pesquisar fatos do passado e contá-los, de modo mais fiel possível, sem tornar o livro "pesado", cheio de termos técnicos, ou simplesmente com cara de pesquisa formal. Não. Greg King e Sue Woolmans não só inserem fatos e inúmeros nomes que tiveram participação neste traço histórico, mas também narram os acontecimentos, recriando as cenas, de modo a nos fazerem sentir bem todo seu aspecto. Lembrando aos leitores desacostumados com a história real, que pode ser mal vista quando mal abordada no ensino, que os fatos são simplesmente um amontoado de casos pessoais, de "eus" e nós que se misturam, deixando ou não, marcas na história. Ao passarmos batidos pela informação de que um tal arquiduque havia sido assassinado antes do "bum" da Primeira Guerra, não paramos para imaginar, como fazemos muitas vezes, que ele tinha vida, problemas, sentimentos, que era humano - mais que um nome num livro - como nós! E muito menos, que sua vida daria um lindo romance histórico, digno de entrar nos corações românticos.


           Os autores deixam claro, ao contar a história de Francisco Fernando, que em outros relatos, deixados por pessoas da época, há distorções. O arquiduque sempre foi um tanto reservado, desde a infância, e também, em dados momentos, chegava a se estressar facilmente. Ainda que pedisse desculpas depois e tivesse seus motivos, as pessoas o viam de modo negativo, como malvado, tirano, arrogante... coisas do tipo. Só que percebemos que ele, na verdade, era uma pessoa normal, até boa, de acordo com nossos padrões atuais - até também com os da época, para quem tivesse bom senso. Na verdade, achei curioso o distanciamento de ideias que a sociedade em que ele vive apresenta. Não havia a mesma tecnologia, mas quando o assunto era a vida do arquiduque, as notícias voavam! As opiniões e intromissões também. Se desde antes ele já levantava um certo receio da população, até em relação a suas ideias liberais, pior foi o susto que causou quando decidiu desposar Sofia. O que vemos é aquela típica preocupação de manter os costumes, de seguir tradições e títulos, e muito interesse e inveja - sim, isso não é dito, mas é perceptível. E uau! Há conceitos, com os quais a sociedade julga toda a vida dele, que hoje - Amém! - não seriam aceitos na nossa sociedade. As coisas são bem mais descomplicadas, fáceis, e as mentes mais abertas. Apesar disso ser óbvio, achei importante frisar na resenha, porque é um fato que fica tanto em evidência, que chama tanto a atenção, que chega a causar estranhamento, mesmo que você vá ler sabendo da mudança de costumes e etc. É impressionante a onda de egoísmos e intolerância daquela sociedade. Sabe aquele pessoal de tal família que se metia em tudo na vida de tal pessoa que você conhece? E aquele que distoricia tudo e fazia fofocas? Já pensou nos que falam mal de tal coisa sem razão? E nos tradicionalismos chatos e absurdos? Então, junte tudo isso e coloque num círculo social, o mesmo em que o arquiduque precisa viver, do final do século XIX ao início do século XX. Aí, você terá uma pequena ideia do quanto foi difícil para ele viver em paz ao sair de casa.

           Francisco Fernando perdeu a mãe cedo, e seu pai também não demorou muito a partir. Sua criação foi como deveria ser para sua classe social e seu contexto na época: professores particulares e cansativas aulas variadas. Regras e normas, para preparar o homem perfeito para a posição que deveria assumir. Mesmo que não soubessem que ele seria o futuro herdeiro do Império. Com uma sucessão de mortes, Francisco Fernando vira o herdeiro de seu tio, o Imperador. Por isso mesmo, depois, tantas complicações viriam para ele. Quando ele se vê totalmente apaixonado por Sofia, tem que encarar todos os desafios sociais para poder se casar com ela, e ter a permissão do tio amargo. O motivo? A família de Sofia (boêmia) perdeu prestígio como o tempo, e sua posição social é considerada inferior à dele. E há a regra de que o casal deve ter a mesma posição, ou o casamento seria morganático - que quer dizer exatamente isso, o casamento com alguém de condição inferior. O tipo de casamento acontecia na época, apesar de nunca ser bem visto. Só que por se ele, o herdeiro, a situação se tornou muito mais difícil. Depois de muito custo, eles conseguem se casar, com as condições de que nem Sofia nem seus filhos poderiam herdar algo de Francisco Fernando, nem títulos. Por isso, Sofia manteve sua condição inferior. Ao entrar nos lugares, ele entrava na frente, e ela sempre por último, às vezes sem ser acompanhada por ninguém - ele não podia acompanhá-la. E ao sentar-se, também não podia se sentar ao lado dele. Como se não bastasse, havia inimigos que adoravam piorar a situação, falando mal dela ou forçando casos desconfortáveis, diante de regras sociais, como Montenuovo. 

          Diante de tudo isso, Sofia foi uma verdadeira heroína. A personagem histórica que conquistou totalmente a minha admiração. Ela nunca reclamava, nunca brigava, nunca agia com má educação, e não há relatos que nem deem a entender que ela alguma vez tenha reclamado com Francisco Fernando. Pelo contrário, diante dos ânimos elevados da corte, era ela quem o acalmava, o lembrava de como deveria agir. Tudo o que queria era vê-lo feliz. É claro que ele a amava de volta e tinha os mesmos sentimentos em relação a ela, por isso, fica claro como devia ser difícil para ele ter que conviver daquela forma. E para isso, sim, podemos empregar o termo nobre, no sentido puro da palavra. O casal, em meio à sua sociedade cheia de regras hipócritas e distantes do amor, vivia sentindo-o e emanando-o.  Arrisco dizer, que até a frente de seu tempo. Isso ainda se refletia no modo como tratavam carinhosamente seus filhos, numa relação direta, cheia de dedicação e carinho. O livro mostra extremamente bem as personalidades deles, os sentimentos, a atmosfera que os rodeava. E ainda é mais: uma pesquisa completa, numa linda edição, com direito a árvore genealógica, notas, prefácio,  mapa, fontes... todos os dados necessários. E tudo montado de uma forma harmônica, com neutralidade e conforto. 

"Sofia, por outro lado, contrabalançava sua agitação. Embora, a sós, confessasse à sua irmã Otávia que a situação era 'difícil', o que realmente detestava era ver o marido magoado. Não importava o que acontecesse, mostrava-se sempre serena e aceitava as regras humilhantes com uma paciência que poucos podiam entender. (...) Ela não se sentia ofendida como o marido. Só o que queria era fazê-lo feliz."


          Enquanto estavam juntos, foram felizes. Quando as tensões aumentaram, o casal era contra a guerra, porque prezava a humanidade. Mas inevitável foi a viagem que tiveram que fazer, que acabou resultando na morte que estourou a primeira guerra. Depois daí, ainda ficamos sabendo o que aconteceu até a morte de seus filhos, tendo ainda, relatos da segunda guerra mundial. Vemos o modo majestoso como a filha do casal pôde perdoar o crime que pôs fim a vida deles. Característica de uma mente jovem mas madura, capaz de compreender coisas que muitos, mais velhos e em outros contextos, não seriam capazes de entender nem de perdoar. Conclusão: não tenha medo de ler e descobrir que adora livros do tipo! Há sentimentos, cenas, tudo montado em meio a uma rica pesquisa, com todas as fontes no final do livro. E ainda, muito material para reflexão sobre a vida e o modo como a levamos. Sobre as decisões que tomamos, os rumos que seguimos, pelo que decidimos lutar, o amor e as atitudes em relação ao outro. E quem sabe, sobre o sentido de tudo que acontece na vida e na história. Ou seja, uma leitura que mais que é mais que interessante, histórica, que narra fatos, mas que faz crescer.

             

Curta a fanpage do Grupo Editorial Pensamento e fique por dentro das novidades.















6 comentários:

  1. Nossa que livro legal!! Não fazia idéia que era assim kkk. Entrou na minha lista com certeza!
    Ótima resenha, muito bem escrita ;)

    ResponderExcluir
  2. Que resenha, Vivian!
    Quando olhei achei enorme, mas foi muito bem escrita, muito mesmo! Você escreve muito bem.
    Gostei da forma como você falou do livro, fez com que eu também me afeiçoasse bastante pela Sofia. Afinal de contas, uma mulher que passa por provações assim e permanece ao lado do seu marido o ajudando e fazendo-o feliz é digna de admiração mesmo!

    ResponderExcluir
  3. Aiin , que fofo o amor dos dois ! Tantas dificuldades e humilhações passadas , só para ficarem juntos, mostra o significado de um amor verdadeiro. Deve ser uma leitura e tanto! Acho que ficaria muito envolvida com o livro. Ficaria indignada com as injustiças da sociedade dessa época, os costumes e regras. Af, dá raiva só de pensar.. Leria com certeza !
    bj, dréa

    ResponderExcluir
  4. Olá Vivi!
    Eu nem sei por onde começar a comentar sua resenha! Um arraso de resenha, acho que esse livro deve ter sido bem complicado de resenhar! Eu adoro história, acho que fatos históricos em livros assim tem que serem abordados da forma que fique menos maçante, contar junto uma história de amor foi uma jogada de mestre! Eu super leria! Achei a mocinha uma layd só pelo que falou! Ótima resenha!
    Beijos
    Paulinha - Overdose Literária!
    http://overdoselite.blogspot.com.br/2014/07/resenha-cicatrizes-eva-zooks.html

    ResponderExcluir
  5. Oi, Vivian!
    Esse livro é de época, não curto muito livros assim. Mas a personagem Sofia parece ser bem legal, sem reclamar nem brigar.. é difícil encontrar personagens tão bons assim nos livros. O casal apresentado passa por muitas dificuldades, e apesar de ser de época, não deixa de ser um bom livro.

    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Gostei bastante da sinopse/resenha. Ainda não li nenhum livro do gênero e esse livro me chamou bastante a atenção. O enredo é incrível e a história emocionante e muito envolvente.
    Gosto de livros que tratem de guerras e esse tem um quê de romance!

    ResponderExcluir

Comentem à vontade, reflitam bastante, se divirtam e suspirem. Por favor, respeitem as seguintes regras:

-Os comentários devem se referir ao post em questão.

-Comentários que só contém divulgação de blogs estão proibidos. Se quiserem, comentem e deixem o link do blog no final. Sempre respeitando, o espaço alheio.

Muito obrigada e voltem sempre.

.
© Reflexão Literária - 2015. Todos os direitos reservados.
Criado por: Vivian Pitança.
Tecnologia do Blogger.