28 outubro 2013

Resenha: As Brumas de Avalon - A Senhoda da Magia







Autora: Marion Zimmer Bradley
Editora: Imago

Assunto: Período Anglo-saxão; Ficção estadunidense; Lenda do Rei Arthur; Fantasia

Páginas: 248

 Sinopse: Neste enorme e emocionante romance, a lenda do rei Artur é contada pela primeira vez através das vidas, das visões e da percepção das mulheres que nela tiveram um papel central. Igraine, Viviane, Guinevere, Morgana. Elas revelam, com as suas vidas e sentimentos,a lenda de Artur, como se fosse nova de, ao mesmo tempo, levam o leitor a integrar-se na história, de maneira natural e profunda. Assim, esta obra proporciona uma narrativa soberba de uma lenda, e a recriação dessa lenda, bem como a brilhante contribuição para a literatura do ciclo arturiano.






A Magia de Avalon


  As Brumas de Avalon é uma série com quatro livros, que conta a história do rei Arthur, pela visão das mulheres de Avalon e de Camelot, vinculadas a ele. Conhecemos toda a sua história, até mesmo antes de seu nascimento. E é assim que A Senhora da Magia começa.  Somos apresentados à Igraine, a futura mãe de Arthur, e vamos compreendendo, pouco a pouco, o sentido de seu nascimento, que não foi por acaso. Também conhecemos Viviane, a irmã de Igraine e Senhora do Lago e da ilha sagrada, que é uma das personagens muito importantes para o que vem acontecer posteriormente. Toda a história tem como pano de fundo a religião da Deusa, o povo de Avalon, e as mulheres poderosas vinculadas a ele e a Arthur, que influenciam em sua vida. A Senhora da Magia também é um livro capaz de te fazer refletir sobre muitas coisas. Há a figura da mulher exaltada e várias críticas à religião cristã da época.


   Igraine é casada com Gorlois, desde muito nova. Casou-se por obrigação, sem conhecê-lo nem amá-lo. Teve uma filha com ele, que se chama Morgana, e tudo ia na calmaria de sempre, até sua irmã ir visitá-la. Viviane chega trazendo previsões da Deusa, coisas que mudarão completamente o futuro. E Igraine está incluída nesses planos, com papel importantíssimo. O problema? O seu papel é inacreditável demais. Ela teria que fazer algo considerado extremamente errado pela sociedade em que passa a viver após casar: a sociedade cristã. E constantemente veremos coisas assim, que fogem do padrão cristão da época. Também vemos várias conversas que são críticas ao cristianismo perseguidor do século. A Deusa que Viviane segue é, como se pode notar, de uma religião pagã. A religião da Deusa. Não se engane... Isso não deve ser considerado como termo pejorativo, como algo ruim. Durante a leitura é possível compreender como a religião funciona, vemos que há toda uma disciplina, uma série de rituais, crenças, filosofias e, principalmente, magia. Vemos a magia fluir lindamente pelos rituais, a ponto de senti-la fluir para nós, direto da leitura. Encarei a religião com respeito, vi sábias filosofias e muitas alegorias, também. Neste ponto, para mim, o livro não deixou nada a desejar. Marion Zimmer Bradley consegue conduzir todo um novo mundo a partir de Avalon e da Deusa, com muita maestria.  Um trabalho que deve ser lido, com toda certeza.

  A aventura começa. Mesmo sem acreditar, sem querer, Igraine vê coisas acontecerem, coisas nas quais ela não quis acreditar, mas que quando aconteceram, foram de grande alívio e felicidade. Vemos aí, como muitas vezes pensamos que algo é bom para nós, mas na verdade não é, há algo muito melhor reservado. Igraine segue seu caminho, faz sua parte e profecias são cumpridas. Somos cada vez mais imersos no mundo da magia, e chegamos a vidas passadas, a histórias predestinadas e assinadas, há muito tempo, para se cumprirem. A história de Igraine, neste primeiro momento é a que mais traz a exaltação da mulher. Gorlois não era um homem muito... romântico. Chega a fazer coisas ruins com Igraine, a rebaixá-la demais em vários momentos. Porém ela se mantém forte, resiste, não se deixa abater por ser mulher. Vamos lembrar que na época havia uma visão nada favorável ao sexo feminino. Em certo momento da história, Igraine rompe barreiras, assume seus lados esquecidos e vira uma heroína para nós. Até certo ponto. Depois de dado momento, ela muda... Passa a ter atitudes que não me agradaram. Fiquei desapontada com ela depois. 

  Levada pelos ventos do caminho, Morgana - filha de Igraine - vai parar nas ilhas de Avalon, para ser uma sacerdotisa da Deusa, treinada por sua tia Viviane, senhora de Avalon. Apesar de ser sua tia, durante o treinamento, não há tratamentos especiais por isso. Elas são apegadas até certo ponto, mas isso não gera vantagens para Morgana. E lá ela cresce, passando pelo treinamento para servir à Deusa, encontrando as normais dificuldades em alguns momentos. E nós acompanhamos esse processo, em parte. Conseguimos entender como funciona, basicamente. Notamos que há bastante contato com a natureza, simplicidade, obediência, dons, magia e fé. Morgana é uma personagem intrigante, que se mostra dócil em alguns momentos e magoada em outros. Ela não teve uma vida muito fácil, principalmente depois da mudança de vida prevista, que envolve todos. Não é fácil decifrar sua personalidade logo de cara, ela oscila, em alguns momentos neste primeiro volume da série. Os acontecimentos são muito intensos, e mexem com ela muito profundamente. Nossa personagem também está inserida em planejamentos para a vida de Arthur. E tais planos irão ter um enorme efeito sobre ela. Mudarão completamente sua vida. Ela passará por rituais de sacerdotisa, terá sensações únicas, verá sua vida seguir completamente o rumo da Deusa. Tudo isso para chegar ao caminho de Arthur. Digamos que o planejado para ela não é algo nobre, mas espero poder compreender melhor nos próximos livros. O que acompanhamos neste volume é até o momento em que Morgana é escolhida para algo em relação a ele. Como eu disse antes, a história dele, pelas mulheres. O mais legal é que as coisas tomam o sentido de "nada é por acaso", para ele. Vemos que muito da sua própria vida foi decidido por Avalon, antes mesmo dele nascer. É a história com magia, mistérios, fé e beleza indo muito além do que a lenda garante.

  Falando melhor sobre o lado crítico do livro, gostaria de abordar as temáticas religiosas. Sabe-se que na época dele, a religião cristã começava a ser uma espécie de ditadura. Todos deveriam segui-la, obedecê-la. Ai de quem estivesse fora! E ai de quem não seguisse os mandamentos, ou o que a Igreja mandasse, iria para o Inferno! Sem piedade, sem perdão. Não importa se você não sabe, se você não teve as oportunidades, se nasceu num lugar onde não havia escolha. Se você fez algo considerado errado por ela, você seria julgado como concorrente ao inferno. Óbvio que no livro há uma afronta a isso. Há alusões à temática céu e inferno, e é dito que a religião da Deusa acredita na reencarnação. Critica-se o fato de se alegar que há um Deus justo e bom, que cria apenas uma vida, em que um nasce em ótimas condições, enquanto outro nasce para o desespero, sem outras opções. Seja como for, se foge do padrão, é castigado. Onde está a justiça? Coloca-se tal crítica, e também é dito que todos os deuses são um Deus e todas as deusas são uma Deusa. E que há mais de uma interpretação para eles. Eu, sinceramente, achei os questionamentos muito interessantes. Concordo muito com alguns, que atualmente me levam a não concordar com certas doutrinas. Por isso creio naquela que me apresenta argumentos válidos, e que estão de acordo com o que diz meu coração. E sou cristã, claro.



   "- Eu sabia que se tratava de um daqueles momentos em que a história da humanidade é modificada - continuou Merlin. - Os cristãos procuraram acabar com toda a sabedoria que não fosse a sua e, na luta para conseguir isso, estão banindo do mundo todas as formas de mistério, exceto as que se harmonizam com a sua fé religiosa. Consideram heresia pensar que os homens têm mais de uma vida, o que qualquer camponês sabe ser verdade.   

    - Mas sem acreditar em mais de uma vida, como evitar o desespero? - protestou Igraine. - Que deus justo criaria homens desgraçados, ao lado de outros felizes e prósperos, se todos tivessem apenas uma vida?  
   - Não sei - respondeu Merlin. - Talvez queiram que os homens se desesperem com a dureza do destino, para que procurem de joelhos o Cristo, que os levará ao Céu. Não sei no que acreditam os seguidores do Cristo, ou o que esperam."


  Outra coisa que é criticada é o papel da mulher nessa sociedade. Ela não era valorizada, suas ideias não eram ouvidas, só se davam ouvidos aos homens, apenas eles sabiam das coisas e poderiam opinar. Mostra-se que a religião da Deusa coloca a mulher, a sabedoria feminina até acima, invertendo os papéis, porém sem ridicularizar o homem. Interpretei algumas situações não como diferença entre sexos, mas como diferenças de caráteres, de seres. Vi erros e acertos, e consegui perceber uma grande quantidade de conteúdo para se refletir. Vemos como o ciúme e o orgulho podem ser venenos. E como as futilidades magoam. Como quando alguém só vê as aparências e prejudica o outro, magoa. As pessoas são o que são, em caráter, e valem isso: seu ser. E não o que possuem, o que parecem, o que fingem ser, em sua hipocrisia desmedida. O engraçado é que o livro foi feito para uma época tão remota, e escrito também há uns bons anos, e ainda assim, contém tantas verdades que servem para hoje. Hoje em dia, principalmente, o assunto está ainda pior. As pessoas não possuem a maturidade de respeitar o outro, como ele é, de tratá-lo como ser humano igual a si. Se a pessoa possui algo na aparência que foge dos padrões já é tratada, muitas vezes, com falta de respeito. E as pessoas não se importam com o que isso causa no outro, porém, se é consigo que acontece, ela se importa. Mas quantos que provam do próprio veneno se veem remediados?

  Entre essas e outras reflexões mais uma história repleta de magia e significados, A Senhora da Magia é uma ótima leitura, que não só conta uma versão da lenda do rei Arthur, mas apresenta o maravilhoso mundo de Avalon. Um mundo repleto de mistérios e magias, que nos encantam, nos fazendo viajar para outra dimensão. Uma história completa, não só com ação, fantasia e personagens intrigantes, mas também com conteúdo para se refletir. Propostas de repensar a vida, seus conceitos, e principalmente, o passado da humanidade. A época em que a mulher não possuía valor e a religião pretendia se tornar lei. Em outras palavras, uma leitura que vale muito a pena, mais que recomendada. 




Observação: as reflexões sobre religião aqui citadas se baseiam na leitura, num tipo de doutrina que existiu há muitos anos. E minhas opiniões são isto: minhas opiniões. Estão dentro do direito da liberdade de expressão. Discorda? Tudo bem. Só mantenha o respeito.
  







  






4 comentários:

  1. Oi Vivian
    tudo bem?
    Estou atrasada com meus comentários, por conta dos estudos. Comprei essa coleção no Submarino, estava baratinho os quatro livros.
    Adoro a história do Rei Arthur, e quando vi que ela seria contada do ponto de vista das mulheres, corri para adquirir.
    Agora lendo sua resenha, não me arrependo e adorei a história.
    Beijos.
    Cila- leitora Voraz
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  2. Tenho muito interesse neste livro, mas ainda não o tenho. Quero ver se consigo em troca.
    Bjs, Rose.

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  3. eu ia começar esse livro hoje haha
    eu já tinha começado uma vez -e não sei porquê parei de lê-lo.
    achei muito legal, até onde li.
    Quero terminar de lê-lo.

    http://incriativos.blogspot.com.br/

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  4. Essa coleção é ótima, RECOMENDO!!!!

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