06 março 2014

Resenha: 12 anos de escravidão








Autor: Solomon Northup

Editora: Seoman - Grupo Editorial Pensamento

Assunto: Escravidão, EUA, história, sofrimento, drama.
Páginas: 230
Sinopse: O livro que deu origem ao filme vencedor do 71º Globo de Ouro e indicado para o Oscar 2014 em 9 categorias, publicado pela editora Seoman. 12 Anos de Escravidão é um livro de memórias angustiantes sobre um dos períodos mais sombrios da história norte-americana. Ele relata como Solomon Northup, nascido um homem livre em Nova York, foi atraído para Washington, D.C., em 1841, com a promessa de um emprego, e então drogado, espancado e vendido como escravo. Ele passou os doze anos seguintes de sua vida em cativeiro, trabalhando, na maior parte do tempo, em uma plantação de algodão em Louisiana.
Após seu resgate, Northup escreveu este registro excepcionalmente vívido e detalhado da vida escrava. Tornou-se um sucesso imediato e, hoje, é reconhecido por sua visão incomum e eloquência, como um dos poucos retratos realmente fiéis da escravidão americana, redigido por alguémtão culto quanto Solomon Northup — uma pessoa que viveu sua vida sob a óptica de uma dupla perspectiva: ter sido tanto um homem livre como um escravo.
Nas telinhas do Cinema, Solomon Northup foi interpretado pelo ator Chiwetel Ejiofor e Brad Pitt interpretou o abolicionista canadense que ajudou Solomon a reconquistar sua liberdade, além de ser o produtor do filme.
Um relato surpreendente de um importante período, que conta em detalhes históricos, os perigos, os horrores e humanidade da vida de um grande número de escravos.
Uma peça inestimável da História: as memórias de Solomon Northup.








Uma realidade desumana  




   
     12 anos de escravidão é um livro tocante, e muito, muito chocante. Principalmente por ser real. Para quem não sabe, se trata da biografia de Solomon Northup, um homem negro livre, cidadão de Nova Iorque, que foi enganado e sequestrado, para ser levado como escravo, durante 12 anos, até conseguir recuperar sua liberdade. E não, jovem leitor, não é uma leitura chata, como muitos podem pensar ou me perguntar depois. Acredito que todo livro que traga algo real e histórico seja visto com tais olhos por alguns leitores, mas sinceramente, isso é bobagem. 12 anos de escravidão é um livro obrigatório para compreendermos mais sobre a humanidade e sua evolução. Ah... a evolução! Esta palavra esteve em muitos momentos no meu pensamento enquanto eu lia este livro. A história nos permite perceber o quanto a humanidade evolui, e quando digo a história, me refiro ao estudo da história em si, e não a esta trama, especificamente, apesar dela ter um conteúdo muito rico para tal conclusão. Solomon presenciou coisas e passou por coisas que, hoje, seriam inaceitáveis para a maioria das pessoas. E para mim, isto é evolução. Ainda que em alguns lugares do mundo vejamos intolerância com seres humanos por religião, escolha sexual... Enquanto as verdadeiras atrocidades ganham o papel do comum, do normal. Antes a escravidão era algo normal para a maioria da população. A ideia era a de que os escravos não eram seres humanos como os brancos, mas sim inferiores. Tudo vindo de discursos terríveis que ainda causariam muitos problemas depois. E o que mais dói é que tais discursos se disfarçavam de ciência, e a ignorância predominava tanto, que a maioria acreditava e se convencia de que aquela era a verdade. 

   Começamos descobrindo a realidade de Solomon antes da escravidão. Ele era livre, com esposa e dois filhos. Herdou a liberdade de seu pai. Se instruiu e, inclusive, adquiriu grande habilidade com o violino. Trabalhou e pouco a pouco, foi colhendo os frutos de seu esforço. Solomon era feliz antes de tudo, e não imaginava o tamanho da sorte que tinha. Até que um dia, dois homens se apresentam a ele, pedindo que lhes acompanhasse em apresentações com seu violino. A proposta parecia muito boa: muito dinheiro, reconhecimento, amigos fiéis (era o que pareciam a princípio), e ainda o retorno para casa em breve. A esposa de Solomon havia viajado a trabalho também, e o convite foi feito a ele nesta época, de modo que ninguém soube para onde ele estava indo. Ao aceitar o convite, assim seguiu, sem deixar notícias ou rastros. Um dia, após uma comemoração, ele passa mal e desmaia. E ao acordar, se encontra acorrentado numa sala escura e pequena. Dentro das descrições que costumamos ter de lugares habitados por escravos. Um homem aparece, e nada lhe é explicado, ele simplesmente é tratado como escravo. Como reagir diante disso? Solomon afirma que só pode haver um engano, ele é um homem livre! E pronto... isso é suficiente para levar cicatrizes nas costas e dores por dias. O estalar dos açoites ressoam sobre ele, deixando marcas e uma lição que ele não esqueceria: não repetir que é livre. E lhe foi gerado um temor antes desconhecido... Mas que foi conhecido por milhões de pessoas naquela época: medo de outro ser humano, medo da dor, medo de agir errado. Foi lhe imposta a dor da falta de liberdade, de amor... Do isolamento.

   Solomon, durante o correr dos 12 anos, possuiu vários senhores. Entre eles, um religioso, pregador batista. E eu não pude evitar que me ocorresse o questionamento do tipo de interpretação que as pessoas faziam das escrituras. Tanta gente se escondia atrás da religião com hipocrisia, enquanto sujeitava seres humanos, seus semelhantes, às penas da escravidão. Tantos! Tantos! Esse senhor aqui citado, o Sr. Ford, até que não era dos piores, pois não foi narrado que ele tenha cometido atrocidades como outros o fizeram. Ele respeitava os escravos quase como trabalhadores, mas ainda assim, não lhes respeitava a liberdade e os colocava nas mãos de homens terríveis quando necessário. Muito pior era outro senhor, o senhor Epps, que dizia que a Bíblia era a favor da escravidão, com suas próprias palavras... Sem comentários. Só acho que vale a pena frisar que é por isso que muita gente não acredita em nada. Como ir atrás de uma doutrina cujos seguidores e a instituição em si se contradiz? Falam em amor e etc, mas amor para quem? Hoje, ainda bem, muito ainda bem, tivemos melhorias, apesar de ainda haver muita hipocrisia e fingimento em algumas partes, em algumas religiões. Uma mancha em meio a certas luzes, que não vem ao caso agora. Mas voltando a falar dos senhores de Solomon, tirando as crenças religiosas e nas ideologias vigentes que justificavam seus atos para eles mesmos, a maioria deles cometeu atrocidades e loucura. São homens que só demonstram a mais pura ignorância de seu tempo. Os verdadeiros fracos, de espírito, de amor... Perdidos em sua solidão, com justificativas falhas a si mesmos, que uma hora na eternidade viriam a desmoronar. Algo ainda no que consta o lado religioso do livro é o lado de Solomon. Ele era um homem religioso, e diante de tamanhas injustiças na Terra, dizia que a justiça divina seria feita contra todos aqueles homens capazes de tamanhas atrocidades. E eu concordo com ele, de acordo com minhas crenças, ao meu modo.

     Este livro se mostra extremamente comovente, como eu disse antes, por ser real, mas também, por termos uma narrativa tocante, pelas experiências de alguém que enfrentou todo aquele mal da escravidão. Toda a dor, a mágoa, o ressentimento, o medo, a solidão... Dor e mágoa, o físico e o sentimental. E a consequência de ressentimentos e de medos. A solidão de ser afastado, imagine só, 12 anos, pensando ser para sempre, de sua família. De sua esposa e seus filhos! Sem ninguém por perto para lhe dar amor verdadeiramente, e como se não bastasse, todo o ódio, simplesmente por ter uma cor de pele específica. Um mundo injusto e cruel, no qual aqueles que já nascem escravos, aprendem desde cedo as dores daquela vida. Que mal sabem o significado da palavra liberdade. E que possuíam zero de instrução, zero de tratamento como ser humano, só podendo pensar de forma limitada. Sim, limitada por aqueles que lhe fizeram mal. Um mundo triste, difícil de se viver, mostrado com suas verdades e feridas sem pudores na biografia de Solomon Northup. Um livro que não é só recomendado, mas totalmente indicado com obrigatório para que todos passem a repensar suas atitudes, para que se questionem sobre o que o nosso mundo de hoje considera normal e que daqui a séculos será repudiado, diante dos olhos da evolução. O quanto a sociedade estará enganada? Quantos anos levaremos para perceber? 






  


    Recebi este livro de parceria com o Grupo Editorial Pensamento, e como comentários da edição, vale ressaltar que a diagramação é muito boa e facilita a leitura. A fonte não é muito pequena. E o estilo total do livro é agradável e adequado ao conteúdo, sem se tornar visualmente triste ou trágico, como a história acaba sendo em certos acontecimentos. Tanto que a edição se torna até mais atrativa. 
    Obrigada à editora pela parceria, especialmente à Gisele, por me indicar até 12 anos de escravidão. Foi uma ótima leitura!




    Sobre o Filme: 



  Esta história ganhou sua adaptação recentemente, e a mesma já foi muito bem premiada no Oscar, que ocorreu esses dias. Eu demorei um pouco a fazer esta resenha porque queria ver o filme com calma, e foi bom ter esperado o feriado e ter visto em data próxima a premiação. Agora eu sei que foi muito bem merecida! E entra, é claro, no que eu assisto e recomendo. Só não faço um post a parte, porque tudo o que poderia ser dito em relação à história se enquadra nesta resenha, já que o filme é bem fiel. Exceto os aspectos cinematográficos como atuação e etc. Falando neles, quem mais chamou a atenção foi exatamente a atriz que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante: Lupita Nyong'o, que interpreta Patsey, uma das personagens de história mais comovente do livro, amiga de Solomon na fazenda do Sr. Epps, onde passa por terríveis situações que me arrancaram lágrimas ao ver o filme. No livro lágrimas quase foram arrancadas, mas não chegaram a descer. Talvez o apelo visual do filme seja mais comovente. Enquanto o livro traz mais reflexões e a maior noção do testemunho de Solomon. No geral, ambos merecem ser vistos e comentados. E claro, recomendados. Então não só leiam, como assistam ao filme também.









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18 comentários:

  1. Nossa ótima resenha eu já havia visto uma mas não estava tão completa e apesar de eu não gostar muito desse gênero a resenha ficou maravilhosa

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  2. Eu vi o filme e fiquei muito impressionada... Tudo o que você vê fica martelando na cabeça, principalmente por saber que não é ficção... Chorei muitas vezes, e meu marido também!
    Não li o livro, mas com certeza o terei em minha estante!
    Parabéns pela resenha Vivian, você conseguiu transcrever todo o sentimento passado no livro!
    Beijinhos
    Sou eu... Pri!

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  3. Uau, que resenha, hein? haha Eu vi o filme (E FIQUEI SUPER FELIZ POR TER GANHADO O OSCAR DE MELHOR FILME ! *OOOOO* / e também pela diva da Lupita ter ganho o Oscar de atriz coadjuvante u.u). Geralmente, livros são bem melhores que o filme, então, provavelmente irei gostar do livro também. Além de ser uma história comovente, ainda é real, tornando-a mais atraente ainda.
    pretendo ler o livro em breve (:

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  4. Me emocionei muito com o filme e fiquei feliz por ter levado o Oscar!
    Mas acredito que o livro seja ainda melhor, mas intenso e denso. Não consigo imaginar o horror que Solomon passou, ele e tantos outros. Deve ser muito comovente ler as palavras de alguém que passou por tanta coisa assim e teve a chance de sair e contar para o mundo.
    bjs

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  5. Oiii
    Nossa, queria muito ver o filme, agora vou precisar ler o livro primeiro..hehehe
    Deve ser mesmo comovente, gosto de ler histórias assim.
    Vou ver se compro ele.

    beijos
    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

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  6. Conheci a história do livro e filme apenas depois que foi indicado ao Oscar. Não li nem assisti nenhum dos dois, mas só pelo que vi sobre tenho certeza que é uma história e tanto. Fico muito feliz que um relato sobre a escravidão tenha sido reconhecida, até porque acho que às vezes esse assunto é bem esquecido, ou posto de lado. Como sempre pretendo ler o livro antes de ver o filme, e é uma leitura que tenho certeza de que não vou me arrepender. Beijos

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  7. Este livro deve ser muito bom, assim como o filme. Tudo bem que devo derramar algumas lágrimas, mas acho que vale a pena.
    Bjs, Rose.

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  8. Oi, eu tenho que ler esse livro, gosto de tudo que se relaciona a época da escravidão, sei que parece meio louco, mas eu gosto porque assim sei tudo o que eles tiveram que passar para que nós negros tivéssemos lugar na sociedade, depois de ler ao livro, quero muito ver ao filme.
    Beijos!!!

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  9. Quero ler o livro, mas principalmente ver o filme. Estou muito curiosa com essa história.
    Adorei a resenha, está muito bem escrita e nos incita a ler o livro.
    Beijinhos!

    http://www.eraumavezolivro.blogspot.com.br/

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  10. Esse livro deve ser ótimo. Acho que vou chorar muito.

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  11. Pedisse o livro na parceria?
    Achei que esse livro não e bem minha cara, tanto que também não vi o filme.
    Porém a resenha está linda, o livro parece ser lindo. :)

    Beijoca, e parabéns!
    Modaeeu.blogspot.com

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  12. To louca para assistir este filme, deve ser o máximo...Valeu pela resenha!!

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  13. Todo mundo está falando muito bem do livro e do filme. Quero muito ler, parece ser um livro maravilhoso!!

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  14. UAU! Que resenha foi essa??? Vivi você me ganhou, só ouvi falar desse livro depois do Oscar, por conta do filme, parece ser uma grande história, que nos dá muito em que pensar. Minha família é uma mistura danada, um bisavô meu era Italiano e o outro filhos de escravos, que nasceu na época do ventre livre, acredito que eu vá gostar muito da leitura do livro e me emocionar muito com o filme.

    Bjks

    Patty Santos - Blog Coração de Tinta
    http://coracaodetinta.blogspot.com.br/

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  15. Oi Vivian, tudo bom?
    Ah, eu quero muito ler esse livro! Muito mesmo! Estou com esse filme no notebook para ver mas não tive tempo! Parece ser muito tocante e toda história real me emociona mais ainda! ecentemente li A invenção das Asas que também trata sobre a escravidão nos EUA e amei! Super te indico! É mais leve e tem outro ponto de vista, mas sei que você vai gostar também!
    Beijão
    Endless Poem

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  16. Confesso que esse não é o tipo de histórias que gosto de ler e/ou assistir, mas, às vezes, me arrisco. Assisti esse filme e gostei bastante. É muito forte e cruel, mas serve como registro histórico. Ao sair do cinema, me convenci de que tenho que ler esse livro, e espero que seja em breve.

    @_Dom_Dom

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  17. Cara, sensacional essa historia. E tão triste, tão tocante ao mesmo tempo.
    Estou criando coragem pra ler e assistir devido a alta carga dramática, preciso estar psicologicamente preparada.
    É terrível de se pensar que coisas assim acontecem. Poxa vida! D:

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