Resenha: Onde o amor se esconde

- Livro cedido em parceria com a editora - 

Autora: Veridiana Maenaka

Editora: Verus - Grupo Editorial Record

Assunto/ Categoria: Literatura nacional, Romance, Drama, Brasil - início século XX, São Paulo, Independência Feminina, Violência contra a mulher.

Páginas: 350

Sinopse: Na São Paulo do início do século XX, a jovem Glória sonha com o amor, ao contrário de sua amiga Marisa, cujo desejo é viver tão livremente quanto os homens. Glória, de família tradicional, se casa com o homem escolhido por seu pai. Rico e ambicioso, porém emocionalmente distante, esse homem vê na esposa apenas uma prova de sua ascensão social. Incapaz de dar um herdeiro ao marido, Glória vive uma rotina de violência crescente, enquanto Marisa se casa com o pretendente que escolheu, um notório libertino. A infelicidade de Glória a torna suscetível à sedução de outro homem, e eles têm um encontro avassalador, marcado pela descoberta sexual da jovem. Envolvida em uma trama de luxúria, Glória pode conhecer um prazer jamais imaginado, mas será essa a sua chance de viver um grande amor? 

Romance histórico nacional intenso

Tenho tido a sorte de descobrir romances históricos mais recentemente. O padrão geral que vejo é Inglaterra/ França/ Holanda/ EUA. Até de autoras nacionais. Qual não foi minha surpresa quando ouvi falar desse livro, da autora nacional Veridiana Maenaka, que se propõe a narrar o passado do nosso país? Ainda assim, eu não esperava tanto dele. Não sei por que. Não tenho me atentado tanto na sinopse, leio quando importa e depois me esforço pra esquecer, e não conhecia o trabalho da autora a não ser por indicações de Alba e Mari do antigo Psychobooks, agora da Increasy. A questão é que Onde o amor se esconde não só me satisfez, mas me transbordou. E vou contar o porquê.

Glória foi criada por uma família tradicional, da sociedade, no início do século XX em São Paulo. Para quem não lembra esse é o contexto pós-abolição, Brasil República Velha e uma série de privilégios para os homens "poderosos", não só os coronéis, como vemos neste livro, mas que decorrem do sistema patriarcal. Só aí já temos muitos motivos para ler o livro. A autora não toca nesses pontos históricos que falei; a narrativa é do ponto de vista da protagonista, e que sentido teria ela pensar mais que o necessário no tempo em que vive se é privada de todo aquele estudo que temos hoje e suas preocupações são outras? Mas, genialmente, a vida nesse período e a mentalidade do brasileiro são muito bem retratadas, até nas expressões e no modo de falar. Tanto que me deu uma vontade enorme de ver esse livro como minissérie (contém cenas fortes para o horário nobre!). Ah, e antes que você se precipite com preconceito de "história do Brasil é chato de ver, mimimi...", digo logo: não é! E aqui o foco vai no enredo. A história é só o contexto, que fica como bônus.

Glória se casa com um homem escolhido por seu pai. Erasmo (o marido de Glória), nos encontros que tiveram, nunca pareceu muito amistoso, feliz, mas poderia ser o jeito dele, pensava Glória. Nada para ela soava como um alarme negativo a respeito dele. Só que depois do casamento, ela descobre que o marido é (desculpe as expressões de minha total interpretação) absurdamente ignorante e machista. A primeira parte do livro, intitulada "A Dor", narra o que Glória sofreu vivendo com este homem. Há cenas fortíssimas de violência e cativeiro. Achei muito interessante o modo de narrar da autora, que começa com o impacto, o sofrimento, e aos poucos vai contando para o leitor como tudo chegou àquele ponto inicial. O resultado é que desde o início não queremos parar de ler. Só vou contar até aí da premissa, mas a história vai muito além disso, muitas coisas acontecem.

É interessante citar a amiga de infância de Gloria, Marisa. Ela é o oposto de qualquer dama da sociedade: liberal, busca o próprio prazer em todos os sentidos, adepta da emancipação feminina. E mesmo com o final surpreendente, eu gostei da personagem, justamente por sua personalidade à frente do tempo. Aí entra uma das questões que mais toca o livro: "Até que ponto uma mulher pode se deixar levar pelo desejo?". Veridiana aborda a liberdade social e sexual da mulher brasileira no período; indiretamente, nos faz pensar sobre o papel dessa mulher. Adorei! Confesso que fiquei com receio de ler e encontrar a mocinha submissa e esses fatos serem omitidos. A autora não deixa a desejar, narra com detalhes toda a opressão da época e quanto custa a suposta liberdade. Vai além e toca na parte dos sentimentos e dilemas pessoais. É incrível.

Uma narrativa muito intensa, contexto histórico brilhantemente narrado, o papel da mulher e, claro, o amor acima de tudo, com o debate da expectativa romântica, tudo junto na escrita envolvente de Maenaka, fazem deste livro leitura indispensável para as brasileiras fãs de romances históricos, dos fãs de história do Brasil, e das de romance e drama em geral. É uma história sobre o amadurecimento da mulher, que aprende com a vida, e que consequentemente nos faz pensar sobre isso. Há ainda um mistério no ar que gostei de ver, sobre ser "sobrenatural" ou não. Leia e descubra onde o amor se esconde. Apenas leia e se apaixone. Já escrevi demais ♥.

5 Estrelas