10 abril 2015

Resenha: Dois garotos se beijando



Olá! Tudo bem com vocês? Começando um projeto para colocar o blog em dia. Chega de dias de rebeldia, né, queridxs? A resenha de hoje é de um livro mais que especial. 




Autor: David Levithan

Editora: Galera Record

Assunto/ Categoria: Ficção, Romance, LGBT, YA, Igualdade Social
Páginas: 222
Sinopse: Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer.







Essencial e Marcante




David Levithan é um escritor que deixa sua marca. Para mim é alguém que fez isso em tudo que li dele. E, principalmente, um autor que deveria se vender por si mesmo, sem a necessidade de ser anunciado como "o autor que escreveu um livro com John Green". Entendo o marketing disso. Mas isso não quer dizer que ache justo. Sabe aquele autor que você acaba de ler o livro e quer abraçar, ser bff e guardar num potinho? É esse cara! Dois garotos se beijando trouxe uma das mensagens que vi em outro de seus livros de modo mais intenso: não importa suas características, suas opções banais, somos todos seres humanos. E como seres humanos, a lei que deveria ter maior importância para nós é o respeito, o amor. O livro conta a história de sete - oito se você contar Tariq - garotos homossexuais em certo período de tempo. O tempo em que dois deles: Harry e Craig, estão tentando bater o recorde mundial de beijo mais longo. Os acontecimentos por si só são reais. As dificuldades e os medos, são o que encontramos mundo a fora. Por isso o diferencial deste livro é o que já ficou subentendido por aqui: a escrita do autor. O modo como ele pega fatos pequenos sobre os quais a maioria das pessoas não para para pensar e coloca no livro de modo a fazer o leitor refletir.

Comecei a ler o livro sem me aprofundar nos detalhes. Ultimamente tenho feito algo engraçado, que é ver as resenhas e sinopses de um livro e me interessar por ele, e então esquecer a história. Só ter uma noção do assunto e guardar na mente. Mas aqueles detalhes, eu esqueço antes de ler. Gosto de pensar que vou me surpreender de alguma forma. E tem dado bons resultados fazer isso. Dois garotos se beijando é um livro curto. Então eu recomendaria que você fizesse o mesmo, seria legal. E que lesse a resenha de novo depois de ler para comparar ideias. A premissa é o correr da vida desses garotos. Seus enfrentamentos diários. Vidas em perfeitas e a noção de que estão "fora da sociedade" em certo sentido por serem diferentes. Não são aceitos pela maioria. Seu amor causa burburinho. E um simples beijo, se gera falatório em pais quando exposto em novelas, gera violência nas ruas, pelas mãos dos filhos que receberam aquela péssima educação preconceituosa. Há problemas e pequenos conflitos? Sim! Mas são questões enfrentadas pelos grupos LGBT todos os dias, que de certa forma passa a ser algo real e, infelizmente, encarado como algo dentro do "esperado". Por isso não formam um acontecimento épico dentro do livro. São casos e casos de normalização do absurdo.




Cansados de verem essa aceitação todos os dias, Harry e Craig colocam como desafio para si mesmos e para dizerem ao mundo que não há mal em dois caras se beijando, o desafio de bater esse recorde. Isso depois de saberem que seu amigo, Tariq, apanhou na rua de alguns jovens bêbados porque o viram e o identificaram como gay. Apenas um garoto parado na rua. Há mais de um caso que mostra situações assim. Situações em que pessoas que se dizem defensoras dos bons direitos e outros mimimis agindo em prol do ódio e da ignorância por não aceitarem o que é diferente. Eu li tudo isso e fiquei com raiva. Muita raiva. O livro é de um autor norte-americano, mas a ignorância das pessoas é a mesma da nossa sociedade. O que emociona e nos faz parar é ver tudo isso e reconhecer que é real. E que ninguém faz nada para mudar essa realidade. Qualquer violência agora é compreensível, aceita. A culpa é sempre da vítima. E isso não é dito pelo livro, é divagação minha retirada daqui haha... Mas são pequenas coisas sobre as quais fiquei pensando com esta leitura.




Duas coisas importantíssimas que contribuem muito para o resultado final do livro são a falta de divisão de capítulos e os narradores. O livro é narrado por um "nós". E esse nós é composto pelas gerações de homossexuais anteriores aos garotos da história. Aqueles que estão mortos. Muitos por Aids. E eles trocam, mostram como entendem os personagens no decorrer da história, como foi mais difícil ou mais fácil para eles. Coloca em questão um sentimento de coletividade que mostra como aquele problema daquele personagem é geral. Que ele não está só e que muitos também passaram por aquilo. Como o casal Peter e Neil e o "assumir da relação" para a família de um deles. E de Cooper, o garoto que se vê sem perspectivas de vida tendo que se ocultar e que vê tudo piorar ainda mais quando é totalmente maltratado pelos pais ao descobrirem que o filho é gay. Com a falta de divisão em capítulos e o simples separar de uma linha para outra, a leitura é ainda mais fluida, já que a desculpa do "vou ler só mais um..." fica em suspenso.




Dois garotos se beijando me emocionou muito. Senti o sofrimento dos personagens. Me irritei demais com a ignorância alheia. E refleti e aprendi com a história através disso. É isso que o autor faz: ele te faz pensar e ampliar seus horizontes, te passa a sensibilidade dele ao reparar em coisas na sociedade e dentro do ser humano em que nós não paramos muito para pensar. Levithan me fez pensar não só sobre um viver social, um conjunto de ideias ou uma questão importante a se pensar, ele me fez refletir sobre a minha vida. Sobre meu eu. E fez com que eu entendesse algo que vinha me perguntando há dias. Foi um daqueles momentos em que aquele trecho do livro vem com a mensagem certa no momento certo. E foi logo perto do final. Fiquei com o coração repleto, transbordando e querendo dividir isso com o mundo. Meu modo de retribuir essa ajuda ao autor e ajudar outras pessoas é compartilhar minha opinião, e dizer ao final desta resenha, que este livro é simplesmente imperdível. Que ele não bate na tecla do politicamente ou moralmente correto, mas que expõe o óbvio, que o absurdo não deve ser tolerado. Que o amor deveria ser nossa maior lei. E que uma das coisas que mais falta no mundo é se colocar no lugar do outro por um instante. E também, parar para refletir sobre si mesmo. Vivemos numa sociedade em que é fácil esquecer a cada dia de que é importante pensar no ser humano, na alma humana, no "eu". Seu ou dos outros. Dois garotos se beijando vai muito além do que o título sugere, porque também faz o leitor despertar para essa realidade que parece tão óbvia, mas que não é.


5 Estrelas
Favorito ♥

5 comentários:

  1. Quando este livro foi lançado, fiquei meio apreensiva em relação ao tema. Numa época em que tudo anda tão escancarado, tão exposto..isso ainda me assusta um pouco. Não o pré-conceito formado em nossas cabeças desde a infância..Mas a situação de hoje em dia. O não aceitar, o não entender..e por assim só, colocar de lado.
    Ainda não sei exatamente o que pensar, sei somente que preciso ler o livro para formar minha opinião..
    Farei isso em breve porque sei que isso mexerá comigo de alguma maneira!!!
    Adorei a resenha =)
    Beijo

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  2. Bom só hoje vi duas pessoas comentando sobre o livro o confesso que quando vi o livro achei que seria mais do mesmo, ja li todo dia do Levithan e adorei e com a sua resenha vejo que mais uma vez ele coloca o leitor a pensar e rever seus conceitos. Adoro livros que mexem comigo e me mostram que as coisas nem sempre são como pensamos! <3 bjkas

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  3. Já vi muitos comentários positivos sobre esse livro, fazendo com que eu tivesse um interesse em lê-lo. Além disso, o conteúdo dele é muito interessante, principalmente por abordar um tema que acaba mostrando para os leitores sobre o que é realmente o amor!

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  4. David levithan tem uma capacidade de nos fazer refletir tão grande que, não tenho certeza se ainda me surpreendo com os comentários, resenhas e emoções que seus livros geram. Concordo com vocẽ, ele deveria vender por si mesmo, pois suas obras são completamente capazes de fazer isso.
    Eu não tenho "papas na língua" mesmo, abomino o preconteito e, por mais que digam que "compro dores que não são minhas", reafirmo que são dores de todos, pois o preconceito é da conta de todos.
    O título só é dito polêmico porque assim o querem, ler sobre o amor, independente da forma como é expresso, deveria ser simplesmente natural.
    Eu achei a premissa bem interessante (embora eu tenha que conhecer melhor para firmar uma opinião), o fator que tratei como primordial foi: o fato do Levithan mostrar que não é só porque acontece frequentemente que devemos tratar com naturalidade e como se fosse normal. Em outras palavras, não é só porque o preconceito acontece que deve acontecer ou ser tratado como algo comum e aceitável.

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  5. A capa gerou uma grande polêmica, o que ainda mostra o quanto as pessoas se sentem ofendidas com demonstrações de amor e só se importam em querer mudar os outros para se enquadrarem aos seus ideais, ou seriam caprichos? Acho que uma das partes mais chocantes do livro é em relação à questão da AIDS. E concordo completamente com você quando diz que: "...uma das coisas que mais falta no mundo é se colocar no lugar do outro.." O que eu apenas mudaria na frase é que isso é o que mais falta no mundo, porque geraria amor e é isso que falta no ser humano, amor ao próximo.

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