Resenha: Atormentada

Autora: Jeannine Garsee

Editora: Jangada 

Assunto: Suspense, sobrenatural.

Páginas: 366

Sinopse: Rinn é uma garota bipolar, que mantém o transtorno sob controle com a ajuda de medicação. Ela mora com a mãe e estuda no Colégio River Hills, onde dizem que a piscina é assombrada por Annaliese, uma adolescente que se afogou ali vinte anos antes. Quando coisas terríveis começam a acontecer aos seus colegas e não a ela, Rinn promete descobrir por que não pode ser “atingida” pelo espírito de Annaliese. Ela consegue fazer contato com o fantasma, que não se mostra nada pacífico. Ao descobrir o motivo, Rinn pede ajuda para seu namorado Nate, e elabora um perigoso plano para descobrir a verdade. Logo realidade e fantasia se confundem, até Rinn perceber que é quase impossível diferenciá-las. Diante de uma força malévola que ameaça a vida de todos de quem ela gosta, Rinn se pergunta se de fato pode confiar no que sente ou se está novamente perdendo o contato com a realidade.

Atormentada... Por quem?

       Um mistério ao redor do túnel por onde alunos não gostam de passar sozinhos em um colégio. Um lugar onde as luzes nunca duram. Uma piscina supostamente assombrada por uma aluna que morreu ali. Cheiro de cloro, lavanda, vela... A mudança para a casa com passado assustador. Uma garota bipolar que percebe tudo mais que todos ao seu redor. A incerteza sobre a realidade e o delírio. O que fazer? No que acreditar? Esta, em parte, é a premissa de Atormentada. Um livro de suspense, jovem, perfeito para um dia como este no Rio de Janeiro: final de domingo com chuva. 

       Rinn conta os dias a partir da morte de sua avó, que foi por sua causa. Cada capítulo narra um dia, a partir daquela data, de modo que começamos com 3 meses + 13 dias. Nossa protagonista é bipolar e toma remédios rigorosamente para se controlar. Há tempos atrás, quando não os tomava, surtava com frequência, ouvindo supostas vozes, que a mandavam fazer coisas. Após uma série de tragédias, ao passar um tempo com a avó, ela se descuida e deixa uma vela em seu quarto, antes de sair de lá. No mar, ela só via ao longe a casa queimando, com sua avó dentro. Fora da comum sanidade, ela não pôde evitar o acidente. E graças a isso, ela recebe as culpas, e sofre por isso. Daí resulta que sua mãe e ela se mudam para a cidade de origem de sua mãe, antes do casamento com o antigo padrasto de Rinn: Frank, que não consegue lidar bem com ela desde o acidente.

      A superação parece complicada, e é exatamente isso que esperamos. Rinn chega à cidade desejando voltar, até se empolgar um pouco com um sótão que lhe serviria como um ótimo quarto. O que ela não esperava era que a casa em que iria morar trouxesse segredos assustadores, apesar de um pouco previsíveis e superáveis por ela. O bom da protagonista é que ela é divertida e incomum. Ela não se assusta com facilidade, nem desiste de algo por suspeitas. E é adolescente, também. Isso fica claro, de acordo com a personalidade traçada na narrativa, que é feita através de seus próprios olhos. Uma narrativa divertida, que consegue passar a tensão na hora certa. Além do fato de Rinn ser bipolar e apresentar oscilações constantes de humor, de modo bem convincente. Você chega a gostar da Rinn, e a torcer por ela.

      Os outros personagens já são mais complicados, porque em certa hora, você desconfia de todos. Ainda assim, consegui gostar mais de Nate, um garoto que Rinn conhece ao se mudar, e com o qual passa a se relacionar romanticamente. Então, para as românticas, sim, tem romance aqui. Só que não pense que ele fica no foco, de jeito nenhum. O foco é o suspense, a tensão da suposta assombração de Annaliese, o fantasma da piscina. Algo que me incomodou um pouco foi justamente a demora para engatar na tensão da história. Até a página 100, só sentimos uma pontada muito leve do que está por vir. Talvez a narração de cada capítulo um dia tenha estendido a introdução ao contexto de Rinn. Mesmo depois que chega, a tensão demora a crescer. Se você já assistiu Atividade Paranormal, tem quase um perímetro de comparação (apesar do livro ter menos terror). No início o filme chega a ser até parado, você só fica ali sentado, conhecendo um pouco os personagens. E aí, de repente, acontece algo tenso. Mas é bem fraquinho. E pouco a pouco, a tensão aumenta. Em Atormentada é quase a mesma coisa, só que sem ser tão assustador. O que é bom se você, como eu, tem evitado esse clima pesado, vai finalizar a leitura tranquilamente. Antigamente eu amava filmes de terror, mas hoje os sinto como muito pesados... Não tive este problema com Atormentada.

       Ao se adaptar a seu novo colégio, o River Hills, Rinn faz amizade com um grupo de amigas. Entre elas: Lacy, Meg e Tasha. Lacy é uma das personagens mais complicadas a princípio. Ela diz coisas que não deveria, não respeita os outros... e até Rinn só fica perto dela por causa de Meg e Tasha. Meg é simpática, mais tranquila, e Tasha é uma espécie de meio termo, não tem características que chamem a atenção de cara como as outras. Outros personagens marcantes na história são os pais de todos eles, que acabam conhecendo a mãe de Rinn, por causa do passado na cidade pequena. Outros que podem ser citados são Dino, um personagem de personalidade duvidosa, e Cecilia, que sofre bullying por estar acima do peso, das próprias amigas de Rinn. A própria protagonista se vê no dilema da temática. Apesar de não concordar com aquilo, até onde ela pode ajudar, e se dar bem com os dois lados, sem entrar em uma situação ainda pior? Foi um conflito muito bem escolhido pelo tipo de livro que é. A questão da identidade, das escolhas, e do conhecimento de si mesmo e do seu posicionamento diante do mundo cabem muito bem no contexto adolescente da protagonista. Sem divagar mais, o que vale ressaltar, sem dar spoilers, é que coisas estranhas começam a acontecer aos amigos de Rinn, que passam a agir de modo ainda mais intrigante depois de certos momentos. Eles dizem não se lembrar de certas coisas que aparentemente só Rinn viu, se afastam, mudam totalmente de comportamento, ficam agressivos... Seriam consequências de mexer com Annaliese?

     A tensão vai começando com uma sessão espírita, inventada por eles, para provocar o espírito da piscina. O inusitado acontecerá, e pouco será dito depois daquilo. Personalidades vão se alterar, entre eles, os levando a cometer tragédias. Seria Annaliese? Ou apenas a imaginação de Rinn que em certo momento para de tomar seus remédios para bipolaridade? Em certo ponto, você fica confuso sobre no que acreditar, e chega a se assustar com algumas partes. A premissa é ótima. Ela me prendeu como a promessa exata do início desta resenha. O tema da bipolaridade é bem abordado pela autora, que parece realmente conhecer e deixar claros os sinais do assunto. E isso por si só já é um diferencial. Assim como o jogo entre realidade e imaginação que se configura nos permitindo compreender um pouco mais sobre a mente da protagonista em tal estado. O que me incomodou um pouco foi o fato da autora demorar a engatar na história. Ela narra cada dia da personagem, de capítulo a capítulo, e prolonga o tempo antes de entrar na tensão real do livro. Como se houvesse coisas ali que pudessem ser cortadas, se a narrativa não fosse dia por dia. Além disso, achei o final um pouco previsível, como, exatamente, um desses filmes que a gente pega de relance na TV a cabo. Mas, no geral, é uma história ótima para passar o tempo. Divertida e sobrenatural, em um tom jovem-adulto suave e diferente, com um toque especial por Rinn. Numa cidade pequena de clima palpável que nos faz imergir na história, sentido a gradual tensão que se instala pouco a pouco, sem exageros ou surtos de terror.



 Observações sobre a edição: a capa é ótima para a história. É instigante. E os tons das cores criam harmonia. Eu sempre parava para admirar um pouquinho antes de ler. Confesso que sou fã da cor de fundo. As letras estão em ótimo tamanho, e as páginas são do tom favorito dos leitores, sem cansar a vista. E a diagramação também torna a leitura mais agradável e confortável.

Música Tema:

Curta a fanpage do Grupo Editorial Pensamento e fique por dentro das novidades.