11 dezembro 2013

Resenha: A Lenda do Lago Dourado








Autor: Edson Vanzella Pereira

Editora: Dracaena
Sinopse: Os Baltimore são uma típica família de uma pequena e pacata cidade norte-americana. Tudo muda para eles quando o filho mais velho, David, com 15 anos de idade, passa em primeiro lugar no Concurso nacional de Superinteligentes do Governo Americano. Reconhecido como o novo grande gênio da nação, ele é contratado pelo governo para uma carreira de cientista. Mas, em sua primeira missão, envolve-se em um misterioso acidente que o deixa entre a vida e a morte. Srta. Marshall, agente do governo, responsável pela missão, sente-se culpada pela tragédia. Max, o irmão mais novo de David, com a ajuda da Srta. Marshal, começa a investigar secretamente as circunstâncias daquele trágico e enigmático acontecimento. Na procura por respostas, eles se envolvem em aventuras perigosas, eletrizantes, e acabam descobrindo que, por trás de fatos aparentemente sem ligação, há uma trama cruel em curso. Como pano de fundo, ainda temos uma misteriosa lenda envolvendo um lago conhecido como Lago Dourado, que vai eleger nada menos do que o próprio Max para uma missão vital ao lhe transmitir o Poder da Luz: localizar e destruir o Agente Negro, que é o mentor intelectual desse complô maligno que está pronto para eclodir.







   A Lenda do Lago Dourado é um livro que mistura aventura, ação, suspense e ensinamentos. Com a ótima receita para agradar aos leitores, narra um pedaço da batalha eterna entre o Poder da Luz e A Fraternidade da Escuridão. Presenciamos a descoberta de membros do poder da luz sobre esse fato em sua vida, a forma como lidam com essa nova descoberta e todas as responsabilidades que ela traz. Diante disso e de diversas situações, somos convidados a refletir e a aprender. Além da presença da ação, da aventura, da amizade e da família. Entretanto, algo me desagradou. A perspectiva em alguns momentos se mostra muito idealizada, com diálogos muito ensaiados, que fogem da realidade. Assim como alguns pensamentos que também fogem, ignorando situações reais e trazendo quase que um outro mundo ao livro. Sim, o livro se passa em um lugar inventado, tecnicamente. Porém, acredito que ficaria melhor se se aproximasse mais da realidade. 

    Falarei primeiro dos tópicos que me incomodaram, e depois seguirei para os que me agradaram. Além dos diálogos e de algumas situações, que para mim pareceram um pouco utópicos em determinados momentos, uma ideologia presente no livro tem um quê de algo com que não concordo. Em alguns momentos, vemos personagens falando sobre o poder da força de vontade. Dizendo que tudo é possível para todos, basta querer. Discordo, porque nem todos têm as mesmas oportunidades, a mesma educação - o que inclui as influências no modo de pensar e instrução-, o mesmo ambiente, os mesmos exemplos. Por isso, para alguns, o querer mudar e melhorar se torna muito mais difícil que para outros. Quantas pessoas que vivem no Nordeste, na seca, conseguem sair de lá e ficar ricas? Fome, sede, descaso total do governo e do restante do país. Vontade até pode existir, mas oportunidade não. Assim como em outros países, onde situações semelhantes se configuram. E claro que há aqueles onde não é permitido nem pensar por si próprio, onde mulheres são tratadas como objeto. Ou os casos de jovens que se deixam levar pelo crime, mas que nasceram abandonados numa lata de lixo, criados por um pesadelo ambulante, sem amor e que só se preocupa em ganhar o sustento às custas deles. Sem opção, se entrega às drogas e à vida na rua. São inúmeras situações que podemos citar, onde é mais difícil mudar, reagir. Entretanto, para o filho de pais dedicados ou apenas com boa condição financeira, que podem colocá-lo numa escola decente - onde não imperam outros criminosos, talvez vítimas do sistema -, é fácil aplicar a máxima de "ele pode melhorar, ser alguém, se querer e se dedicar". Ao contrário do que diz o pensamento liberal, nem todos são iguais. É bom lembrar disso, questionar o que traz tal pensamento e visualizar a realidade para ver se tais ideologias se aplicam.


    Senti mais tais características no início do livro. Depois, a história vai se desenrolando e convidando o leitor a mergulhar nesse mundo, a torcer e a descobrir quais os próximos passos do agente da luz no combate à Fraternidade da Escuridão. De início, conhecemos os Baltimore. Uma família muito unida e amorosa, que é contemplada com a descoberta de que seu filho mais velho, David, foi selecionado em um programa do governo para superdotados, através de suas notas na escola. A alegria da família é total, e obviamente, David se interessa pelas oportunidades que a seleção pode trazer e vai fazer o exame. E uma bela surpresa chega: descobrimos que David tem um QI que supera todos, um novo recorde, que não parecia possível. Porém, ele consegue. Segue com seu pai em viagens, de acordo com o programa oferecido pelo governo. As vantagens são muitas, apenas para ter o trabalho de um QI tão alto a favor do governo americano. Junto dos dois Baltimore na viagem, segue a agente do governo Srta. Marshal. Enquanto isso, a mãe, Lisa, e os outros dois filhos, Max e Peggy, permanecem em casa. Tudo poderia ir bem, não fosse um acidente sofrido por David, que vem para o Brasil e é atingido por uma bala perdida, entrando em coma. A tragédia arrasa a família, que espera ansiosamente a recuperação do filho. Em decorrência do acidente, o governo americano arca com despesas, garantindo melhor educação aos filhos e ajuda financeira à família.

     Em meio a isso tudo, Max descobre que precisa embarcar na missão do poder da luz para deter o agente negro. O meio para começar? Investigar o acidente de seu irmão. Mas onde entra o Lago Dourado? Simples, o poder da luz se manifesta através dele, dando vida à lenda. Partindo desse ponto, Max segue sua missão, contando com o apoio de srta. Marshal a princípio. Acompanhamos as mudanças que sua vida sofre, como a mudança de escola e o desafio de viver com a tragédia que pousou sobre a família. Assim como o treinamento que passa a fazer. Porém, o livro é muito mais que isso. Como eu disse antes, somos convidados a refletir sobre diversas coisas. Como por exemplo, o papel da verdadeira amizade. Como os amigos de verdade te ajudam a se levantar, a ser alguém melhor. Como não invejam seu sucesso, torcendo pela sua derrota, por não querer te ver melhor que eles. O que me fez pensar em como a amizade verdadeira pede caráter. Sim, porque é preciso amar o próximo e se doar, ajudá-lo, apoiá-lo, fazer o bem a ele, compreender e perdoar, aconselhar. Algo que falta um pouco hoje em dia. Gostei do fato disso ser mostrado no livro. De como a maioria não possui tais virtudes, não ama o próximo, nem se doa. Além de mostrar como alguns só se importam com a aparência ao apreciar alguém, mas inveja quem se sobressai. Um exemplo claro disso é o ambiente escolar. Onde a garota bonita recebe a atenção e a popularidade, com a inveja disfarçada. E como o seu sucesso repentino no intelectual passa a ser insuportável para a maioria, e até mesmo para supostos amigos. Nasce um ódio da parte deles injustificado, apenas pelo esforço dela. Engraçado como as pessoas invejam mais aquilo que vem do esforço, principalmente na inteligência ou no campo do trabalho. Olham o trabalho bem feito com maus olhos, invejando o mérito alheio, ao invés de se esforçarem para evoluírem por si mesmas. Amei como o livro exibe isso, e me identifiquei com a situação sofrida por Gabby, personagem que estuda com Max em sua nova escola. 

     Outras coisas sobre as quais refleti lendo este livro foram sobre como há pessoas más, que fazem tudo para cumprir seus interesses pessoais. Ou simplesmente para ver a infelicidade alheia. Criam ilusões, pensam que podem tudo, porém, um dia a verdade vem a tona: ninguém pode tudo. Tudo tem um limite. A ilusão de desfaz e vem o sofrimento. Em algum momento. É nisso em que acredito. Além disso, há o dilema do herói: agir para si mesmo ou pelo bem geral? Se pensarmos bem, esse dilema pode se mostrar presente em nossa vida. Quantas vezes não nos vemos diante de situações em que podemos ajudar alguém ou fazer algo para nós. Vale a pena aprender com os heróis e escolher o certo ao invés do fácil. É mais que uma frase bela, é mérito pessoal. Como nos ensina o personagem Max. Gostei dele, apesar dele se articular com falas não convencionais para um garoto de sua idade, mesmo com todo o seu papel. Gostei de suas atitudes, que dão esperança de encontrar pessoas melhores. Assim como gostei de outros personagens, que também apresentam atitudes positivas, tornando a viagem mais agradável. Tanto que ao final do livro eu havia me apegado aos personagens. Após tudo o que aconteceu, de tantas aventuras e torcidas, de tanto aprendizado, é impossível não sentir um carinho especial por eles. Além de todos esses fatores, outro ponto maravilhosamente positivo foi o modo como os planos são trabalhados. Como as situações são tramadas sem deixar falhas. O modo de agir super inteligente de Max e a aplicação do treinamento que teve. Por exemplo, ele precisa investigar pistas que levam em direção ao agente negro, e não faz isso às cegas. Lê uma coleção enorme de livros de espionagem e ciência da computação. Aliando isso ao seu QI altíssimo, fica justificado como um garoto de sua idade consegue realizar tais feitos na investigação. Adorei esses detalhes. Ver o esforço dele, e o cuidado que o autor teve em não deixar tal parte abandonada, o que fugiria completamente do bom senso. Alguém que nunca estudou algo, conseguir fazer de tudo apenas por seu QI. Ah... Outra parte do treinamento inteligente e útil é a luta que Max pratica. Tudo cuidadosamente pensado e justificado.

  Por essas e outras, A Lenda do Lago Dourado é um livro que vale a pena. Capaz de nos fazer crescer e refletir, além de sentir um carinho especial pelos personagens. Com incríveis situações envolvendo família, amizade, amor, cumplicidade, o certo e o errado, lealdade, verdade e muito mais. Em que as situações principais se justificam, e os personagens cativam. Em que há figuras históricas citadas como Albert Einstein e Adolf Hitler, como personagens do enredo. Só penso que o final poderia ter dado um pouco mais de trabalho aos mocinhos, creio que o tornaria mais surpreendente e envolvente. Além dos fatores que me incomodaram, citados no início desta resenha. Apesar disso, é uma leitura recomendada para a diversão de uma tarde ou para passar o tempo no ônibus. Ou, é claro, refletir e crescer, o que pode ser feito sem moderação.








    Deixo meus agradecimentos à editora Dracaena pela confiança em enviar o exemplar, e meus sinceros pedidos de desculpa pela minha demora em publicar esta resenha.




Beijos açucarados












2 comentários:

  1. Oi Vivian, tudo bom?
    Nossa, eu gostei bastante da premissa do livro, dessa guerra entre a Luz e a Escuridão. Mas entendo o que você diz como "conversas engessadas" é bem esquisito, parece que os personagens não são reais e aí complica a verossimilhança né? Eu prefiro quando consigo identificar traços reais nos personagens, erros e acertos.
    Eu gostei bastante da ideia do livro e fiquei bem curiosa, apesar desses pequenos detalhes! Adorei a resenha Vivian!
    Beijão
    Endless Poem

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  2. Oi Vivinha, tudo bem?

    Nossa, vc super interpretou o livro!!!! Sim, existem pessoas más em todos os lugares e isso o livro nos mostra bastante. Essa questão de se voltar e se corromper para o lado da "escuridão" para mim foi uma forma do autor mostrar, ainda que sutilmente, que somos donos das nossas escolhas e que devemos saber escolher o certo. Mas o que realmente me incomodou foram os diálogos. Isso, realmente, foi bem difícil na hora de ler. Adorei a sua resenha

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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