02 outubro 2014

Resenha: Quem é você, Alasca?





Autor: John Green

Editora: Martins Fontes
Páginas: 229
Assunto/ Categoria: Ficção, Literatura Juvenil, Jovens e descobertas
Sinopse: Miles Halter é um adolescente fissurado por célebres últimas palavras que, cansado de sua vidinha pacata e sem graça em casa, vai estudar num colégio interno à procura daquilo que o poeta François Rabelais, quando estava à beira da morte, chamou de o "Grande Talvez". Muita coisa o aguarda em Culver Creek, inclusive Alasca Young, uma garota inteligente, espirituosa, problemática e extremamente sensual, que o levará para o seu labirinto e o catapultará em direção ao "Grande Talvez".







A incógnita: Alasca 
...e o Grande Talvez






   Quem é você, Alasca? é um livro de que a maioria dos leitores já ouviu falar, com toda certeza. E não seria por acaso, já que seu autor é John Green - autor de A Culpa é das Estrelas. Depois do "bum" do livro e do filme, outros livros do autor passaram a ser muito comentados e Quem é você, Alasca? é um deles, chegando a ter edições diferentes por aqui. A que li foi emprestada de uma amiga, mas pude perceber que a capa é fosca e mancha fácil (não, não manchei um livro emprestado - kkkk..). Indo ao ponto principal, o que mais merece comentários nesta resenha que será mais uma em meio a tantas na internet a respeito deste livro é a escrita do autor. Com certeza ela é o maior diferencial da história - o modo como é contada. Não gostei tanto deste livro quanto do outro sucesso já citado do autor, e confesso que esperava mais, mas John Green é John Green. A escrita ainda é muito boa.

    O livro conta a história de Miles Halter, um adolescente que inicia seus estudos num lugar novo, onde deve permanecer. Uma espécie de internato. Miles é um grande fã de biografias, que se interessa pelas últimas palavras das pessoas. E isso em si já é um diferencial. Como se não bastasse, através disso o autor ainda insere uma espécie de metáfora que consiste no Grande Talvez. Numa das últimas palavras que Miles lê quem as pronuncia (François Rabelais, um poeta) diz ir atrás do seu Grande Talvez. E isso faz com que ele reflita sobre essa questão a ponto de decidir ir atrás do seu Grande Talvez antes da morte. Miles quer fazer algo "maior", se arriscar mais. Se em sua antiga escola ele quase não tinha amigos, em Culver Creek conhecerá figuras que "ampliarão" seus horizontes. Essa é uma questão delicada, pois pode envolver a interpretação de cada leitor. Miles busca esse "Grande Talvez", como uma espécie de sentido para a vida. Então o que se pode concluir disso é que ele está apto para experimentar coisas novas. Isso justifica um pouco ele "mudar" dessa figura com pouca popularidade e atitude para alguém que, como dizemos por aí "se envolve nos esquemas". Ou seja, passa a "aprontar". Isso envolve bebidas, cigarro, trotes e etc.

     Lá faz amizade com Coronel e Alasca. Ambos são jovens inteligentes mas que não seguem os padrões que os jovens inteligentes ou até mesmo chamados de nerds ou cdfs pelo senso comum costumam seguir. Eles fumam, bebem, aprontam trotes, se envolvem com sexo e etc. Então não são tão "jovens que se veem impelidos a seguir tudo que dizem que é certinho seguir". Só que do modo como o autor nos apresenta eles, percebemos que eles não precisariam fazer tudo aquilo para ficar bem. São coisas desnecessárias. E pelo senso crítico que eles possuem, poderiam facilmente seguir outro caminho mais "saudável", ainda cultivando a liberdade, sem se impor a todas as regras que a "sociedade" impõe.

“Passamos a vida inteira no labirinto, perdidos, pensando em como um dia conseguiremos escapar e em quanto será legal. Imaginar esse futuro é o que nos impulsiona para a frente, mas nunca fazemos nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente.”

    É na questão das regras que entra Alasca. Ela é o tipo de personagem que deixa um enorme ponto de interrogação. Como alguns amigos que acabamos por conhecer na vida mesmo. Quem é, afinal, aquela pessoa? Num momento ela age de um jeito, em outra hora de outro, e acompanhando as coisas pelo ponto de vista de Miles ficamos tão confusos quanto ele para saber o que ela quer e o que pensa. Ao mesmo tempo em que num momento ela pode ser chata ou inconveniente, pode receber admiração. Alasca tem muitos livros, inclusive é fã de García Marquez. E ela faz o que dá na telha, num momento não quer assunto e pronto. Em outro toma atitudes até inesperadas... E querendo ou não, pode-se admirar alguém assim, que cultua a liberdade a ponto de fazer o que quer. Ao mesmo tempo em que se pode odiar essa inconstância e dualidade. Mesmo que o livro seja narrado pelo ponto de vista de Milles, pode-se dizer que a história é para Alasca.


"Eu era um palerma. Ela era apaixonante. Eu era irremediavelmente sem graça. Ela era infinitamente fascinante. (...) se as pessoas fossem chuva, eu seria a garoa e ela, um furacão."

     Uma das frases mais famosas do livro que a internet estraga. Eu gosto de ter o prazer de achar aquela frase no meio da leitura e sentir aquilo como uma nova descoberta, e refletir sobre aquilo, criando minha própria impressão dentro de um contexto. Quando já vi mil vezes a mesma coisa no Facebook ou em resenhas essa emoção perde um pouco a graça. E isso é um problema sério com os livros do John Green, se você, como eu, for um leitor tardio que não acompanhou o sucesso imediato. Mas pude refletir sobre ele na leitura. Um furacão é bom? A metáfora é linda e faz totalmente sentido. Mas um furacão é sempre bom? Porque numa primeira vista, é linda a ideia de força da natureza. Essa é a maior questão: a garoa e o furacão. Como forças naturais, a calma e sem graça e a forte, que passa intensamente. Mas um furacão também pode deixar estragos, causar danos. Nunca é agradável ser atingido por um furacão. Seria agradável ser atingido por esta personagem indefinível?

      Outro ponto alto do livro são as aulas de religião que Miles tem. Gente, imagina aprender um pouco sobre cada religião, incluindo budismo e afins. Ah!! Eu adoraria. Tudo bem, pode ser que eu seja um pouco anormal, mas... Para mim parece algo fascinante. A escola não te obrigaria a seguir nem o padrão de que aula de religião é catolicismo ou que a escola é totalmente laica, baseada nas ciências. As aulas de Miles o fazem refletir sobre a vida. Sobre o sentido de tudo. Não se obriga o aluno a não acreditar em nada, nem a não acreditar, mas a refletir sobre o "místico". E Miles e seus amigos fazem trabalhos sobre isso. Miles se questiona e chega a uma resposta. Todos eles são obviamente pessoas críticas, que vão além do senso comum. Fica muito marcada a questão de por que fazem esses atos "desnecessários". Eu interpretei como algo para fugir dos problemas da vida ou para achar o sentido dela. Tudo isso naquele ar de colégio interno, que me lembrou (sem querer comparar, mas comparando) Cotoco. Só que num clima muito mais maduro, sem ser tão maduro.


“Mas que diabos significa ‘instantâneo’? Nada é instantâneo. Arroz instantâneo leva cinco minutos, pudim instantâneo uma hora. Duvido que um minuto de dor intensa pareça instantâneo.”
     




Leitura indicada! Mas indicada sem grandes expectativas, apesar de ser uma leitura boa, o ritmo ficou meio lento para mim. E eu esperava mais. Talvez se tivesse tido menos expectativas tivesse considerado mais o livro. Se fosse outro autor e não John Green, de quem se espera muito depois das incríveis metáforas e pontos altos de reflexão de ACEDE.
E aí? O que você anda lendo? Comente! Me indique livros! Converse comigo! Vou adorar saber.









2 comentários:

  1. Vivinhaaa, minha autora preferida

    quanto tempo que eu não venho aqui. Desculpa, flor. Sério que achou o ritmo de Alasca lento? Nossa, eu adorei o livro. Melhor do João Verde depois de ACEDE huahuahua. Ficou irritada quando chegou NO DIA? Meu irmão ficou boladissimo e quase parou de ler huahuahuahua Gostei da resenha.

    Beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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  2. Oi, infelizmente este ainda não caiu no meu gosto.
    Bjs, Rose.

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